A opinião de ...

Sondagens e palpites

O Povo decidiu, através do seu voto, soberanamente, em liberdade, legalidade e transparência, como sói fazer-se numa Democracia madura e sólida.
Agora, espera-se e deseja-se que o mandato atribuído aos eleitos decorra na defesa intransigente do interesse geral, do bem comum e que estes exerçam as suas funções com desapego de interesses, integridade, transparência, diligência, honestidade, responsabilidade e respeito pela reputação do Parlamento e do País.
Todavia, neste rescaldo eleitoral, partilho a estranheza do que foi bombardeado, diariamente, com inquéritos amostrais, mais conhecidos por sondagens, cujas projeções de resultados em nada se verificaram conformes, verosímeis e consentâneos com o que efetivamente se veio a verificar no pretérito dia 31 de janeiro.
Penso que esta estranheza será generalizada, porquanto vários estudos efetuados sobre os procedimentos de acompanhamento das campanhas eleitorais em Portugal evidenciam que dos assuntos mais abordados, imagine-se, são as próprias sondagens, muitas vezes até mais do que os debates e as ideias propostas pelos diferentes líderes partidários e pelos vários candidatos!
Assume-se que em certa medida se percebem algumas limitações e constrangimentos existentes nas sondagens, mesmo quando são dedicados enormes esforços e recursos para os minimizar, mas não haverá nada para evitar alguns erros de tamanha monta e mesmo contornar outros? Faz-me lembrar a situação que ocorre quando queremos tirar uma fotografia e a lente está tapada ou apontar para um objeto quando queremos captar outro ou quando já não há a luz natural e queremos fotografar e não temos uma outra luz que a substitua...
O que se quer transmitir é que se as sondagens são tão importantes e que até certo ponto elas influenciam ou podem influenciar, de todo, qualquer ato eleitoral, neste vertente caso na ordem política, importa decisivamente preocupar-nos com isto, como um todo social, a fim de até se combater um certo ceticismo, por vezes bastante generalizado, que aponta para o não há nada a fazer, numa espécie de aceitação acrítica.
Isto equivaleria a colocar essas mesmas sondagens ao nível da “banha da cobra” que no dizer dos lexicólogos significa algo que se publicita ou anuncia para endrominar incautos.
Ou então situá-la ao nível dos palpites de café e do futebol, sempre possível de ser influenciada e de influenciar. Em todo o caso, sempre nociva para a Democracia e em última instância para a sociedade.
Igualmente menos positiva, por outro lado, é a veneração dos números e dos resultados que também acontece...
Enfim, parece evidente que a maioria de nós estará assim do outro lado do entendimento, crendo e querendo que mesmo as incertezas podem ser melhor e objetivamente estimadas, haja compromisso e vontade de melhorar e que, por esse facto, é muito importante haver sondagens, até para dar voz a muitas pessoas que de outro modo nunca seriam escutadas.
Resulta assim claro, que é melhor ter sondagens do que não as ter, ao contrário do que sucede nos países de regime autoritário e ditatorial, mas quanto maior, mais completa e rigorosa for a informação obtida pelas mesmas, melhor e melhor também ficará a nossa Democracia.
Haja alguém que faça alguma coisa por isso.

Edição
3869

Assinaturas MDB