A opinião de ...

O tempo dos gestos

Os gestos imbuídos de verdadeiro afeto e credíveis, heterogéneos à comunicação verbal, transmitem proximidade, cordialidade e respeito pelos outros.
Evidenciam, mais do que dizem, a disponibilidade para acolher e receber, bem como a transmissão do calor humano para além de contagiarem positivamente.
Permitem ainda perceber a capacidade de sentir e consolar, para além, de mostrarem, se preciso for, solidariedade ou sofrer com o outro.
Na verdade, os gestos conectam, como o sorriso... com o coração, e refletem uma forma de viver e de agir.
Percebemos ao longo da nossa jornada existencial a sua variedade e multiforme significação.
Desde logo, o aperto de mãos, com contundência, a deixar repousar uma na outra, uns segundos, lado a lado, apertadinhas, em detalhe impercetível à vista simples, um sinal eloquente de afinidade e empatia.
Outro, o olhar olhos nos olhos, numa comunicação de tu a tu, de alma a alma, sem palavras, a que não se consegue ficar indiferente.
De entre os gestos existentes mais fortes encontra-se o abraço, que nos toca no mais recôndito do ser e nos faz encontrar um porto seguro.
Infelizmente hodiernamente a nossa sociedade encontra-se contaminada com a cultura do descarte que é contrária à cultura do acolhimento que os gestos traduzem. É necessário, por isso, compreender a sua importância no nosso dia a dia e o que eles refletem ou podem refletir, dado que é cada um de nós que transforma a sociedade.
Neste sentido, aproveitemos seriamente esta quadra natalícia, como tempo propício, para nos envolvermos mais e nos empenharmos em sermos portadores de esperança, exprimindo, pelos gestos, de maneira concreta, este amor, este bem querer que temos uns pelos outros, pois todos temos necessidade de ternura e atenção.
Deste modo serão, com toda a certeza, uma forma exemplar de nos darmos a nós próprios e de afirmarmos o “amo-te”, o “gosto muito de ti” ou o “muito obrigado”, não para suscitar a gratidão, mas para corresponder a um ato de união, como um regresso aos sentimentos que nos unem em fraternidade.
Serão o sinal do reconhecimento que se tem por cada pessoa significativa para nós.
Por outro lado, é também necessário saber recebê-los, dando-lhe o lugar merecido e deixando-os produzir o maravilhoso retorno que nos leva a pensar naqueles que nos ofereceram os seus gestos tão significativos. Um santo e feliz Natal!

Edição
3915

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