A opinião de ...

Encontro para a mudança

Um rio jamais é igual a si mesmo e o mar também está em permanente mutação. Não obstante, o mar é e será sempre o mar.
Assim também muitos jovens, esse grande oceano de vida, de paixão e entusiasmo, que vivendo num contexto global e local de afastamento da religião e da Igreja como instituição, principalmente aqueles que se encontram a participar nesta 16.ª JMJ – Lisboa, querem, todavia, experienciar uma aproximação e satisfazer essa necessidade de proximidade.
Remam contra a ironia dos tempos hodiernos de hiperconectividade e estarem desconectados da Igreja!
Desta JMJ saem sinais de mudança, ou pelo menos, a vontade dos jovens de que haja mudança constituindo-se, por esse desígnio, um dos pontos fulcrais da importância deste Encontro Mundial, ou seja, de se caminhar com os jovens, mas num mesmo caminho de diálogo, conhecimento, experiência religiosa, confraternização, partilha, festa e solidariedade.
No entanto, mais importante, é a resposta à pergunta que se colocará a seguir à JMJ, isto é, que meios estamos a utilizar na Igreja, como agentes educativos e pastorais, individualmente e nos Secretariados da Juventude, Catequese, EMRC, Família, para compreender e dialogar com os jovens e, ao mesmo tempo, modificar comportamentos, rotinas e estruturas, como Igreja, que ajudem a gerar espaços e tempos de encontro cordial.
Penso que os jovens, que em Portugal são 7 em cada 10 jovens os que se afirmam católicos, assim diz o estudo recente, pela Pordata, base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, estão conscientes da felicidade e sentido existencial que advém da vivência da experiência gozosa de Deus, que sai ao encontro e se insere no próprio núcleo existencial de cada um e não só em situações radicais e de limite.
Neste sentido, há todo um processo a implementar que não passará, de todo, pela negação, como aconteceu em Espanha na sequência da JMJ que se realizou em Madrid, em que se dizia que os jovens já estavam outra vez muito entusiasmados, surgindo depois a tentação do gueto, ou pelo enfraquecimento gradual, a tentação de muitos setores de aceitação acrítica e sem autoavaliação do pouco e mal que por vezes se faz, contribuindo para a sentença de que venha o último e apague a luz!
Assim, cabe antes um processo de reflexão e de mudança com pensamento e ações inovadoras. Concretizar a “igreja em saída” do Papa Francisco, abandonando o eclesiocentrismo e centrando-se nas ações que atraem os jovens, relacionadas com a dignificação da pessoa, a solidariedade, o cuidar da natureza e dos animais, o voluntariado, o convívio e a festa, as viagens, a arte e o património, etc.
Ações que, inspiradas no Evangelho de Cristo, permitem o acesso ao sagrado, na contemplação e na ação e respondem aos sofrimentos e esperanças de felicidade plena dos jovens deste tempo e deste nosso País.
O Papa Francisco uma vez disse com o seu bom humor “a santa avó igreja” em vez de “santa mãe igreja” para dizer que a igreja precisa dos jovens para ser jovem porque é desde o coração que eles se deixam interpelar e interpelam critica e exigentemente pois enamorados da vida e de tudo o que é belo e bom que nela existe.

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3946

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