A opinião de ...

A desclassificação das jóias de Bragança

Apesar do seu protagonismo na identidade e imagem de Bragança e dos bragançanos, pelo seu ímpar e respeitável devir histórico no qual se fundou inclusive a construção da nossa nacionalidade e sentir pátrio, alguém considerou que o Castelo e a Domus Municipalis não reúnem condições e dignidade de interesse nacional.
Castelo e cerca de Bragança bem como a Domus Municipalis e o Pelourinho que se encontram classificados como Monumento Nacional pelo decreto de 16 de junho de 1910, sendo propriedade do Estado, afeto à Direção Regional da Cultura do Norte!
Quem conhece este valiosíssimo património histórico não pode nem deve ficar indiferente a esta desclassificação, objetivamente desproporcional e intrinsecamente inconsistente, dadas as razões genéricas apresentadas sem argumento público, que desclassifica mais quem o pretende fazer, pelo despropósito inusitado e agressão, isso sim, ao interesse nacional.
Poderá perguntar-se, a propósito, o que se pretende e o que se ganhará em termos da tarefa e do desígnio de preservação, valorização e divulgação, em missão multi-institucional e congregadora? Será para ser feito pelo Município de Bragança o que o Governo não tem sido competente e eficaz a fazer?
E será que o Município de Bragança terá envelope financeiro suficiente para tal, a ser transferido pelo Governo? A fazer uma análise comparativa com as transferências em Educação ocorrerá o mesmo?
Não haverá, contudo, outros modos e processos sem retirar valor e âmbito nacional a estas jóias do património que na essência são mais de que nacionais? Tenha-se em conta a evidência de milhares de turistas estrangeiros que ali demandam todos os anos...
Neste sentido esteve muito bem a Câmara de Bragança ao divulgar publicamente uma nota de estranheza e de discordância frontal com tal proposta de decisão.
Contudo, penso que mais deve ser feito pela Autarquia, envolvendo e articulando com os organismos e entidades que desenvolvem de alguma maneira a sua missão neste património histórico, mas sobretudo com a sociedade civil, com os cidadãos, para ainda, pois em fase de consulta pública, ser alterada esta infundada pretensão.
Talvez convidar o Sr. Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva a deixar por uns instantes o Palácio da Ajuda e o Largo do Rato e vir a Bragança e mostrar-lhe in loco de que é constituído este tesouro bragançano para a construção do conhecimento da história e da cultura nacional.
Talvez a relevância do contato direto com estas fontes patrimoniais ímpares ajude.
A História é um continuo de tempo, acontecimentos, sucessos e insucessos, análise e interpretação, que compreende lacunas, omissões e erros, mas também virtudes, enquadrados em valores e princípios que os Homens vão concretizando e servem de referência para juízos positivos ou negativos vindouros.
Que quem tem responsabilidade neste acontecimento não fique na História como o responsável por um ato gravoso para com Bragança e os bragançanos.

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