A opinião de ...

Virá o diabo à quarta partitura a solo do PS?

As eleições legislativas são um método para escolher governantes e representantes no parlamento nacional, de entre candidatos apresentados por partidos. A escolha é feita por cidadãos que gozam de liberdade de voto (podem ou não ir votar) e no voto (podem escolher quem entenderem).
Em 6 de Outubro de 2019, estavam registados 10.819.000 eleitores, 9.343.486 dos quais no Continente e Ilhas e os restantes no estrangeiro (europa e resto do mundo).
É provável que a abstenção – que vem subindo de eleição para eleição -, atinja os 50%, se considerarmos todos os eleitores, tendo atingido os 45,49% no Continente e Ilhas.
A abstenção é uma vitória demasiado grande para Salazar, isto é, para os que ficam calados. A única diferença é que, no tempo daquele senhor, não podiam falar. Agora, não falam porque ou não querem ou não podem ou não estão para se ralar com isso.
A análise da abstenção é complexa mas o facto de ela subir de eleição para eleição devia fazer pensar os responsáveis. Não embarco nas explicações simplistas de que os eleitores estão desiludidos com o regime e com o sistema. Sim, também estarão, muitos deles, mas as outras razões parecem-me mais importantes e dominantes. A maior parte das pessoas estão deslocadas e isso é evidente no estrangeiro. O voto electrónico resolveria esses problemas. Estou convencido de que 70% da abstenção tem como causa a distância das pessoas em relação ao local de voto.
E o que dizem os resultados? Nada de especial. O PS ganhou porque terminou o mandato anterior com uma conjuntura interna e externa favorável ainda que tivesse o mérito de fazer um mandato relativamente pacífico, sustentado pelo Presidente da República. O PSD perdeu por balcanização interna, por falta de liderança política da sua direção e porque as pessoas ainda não esqueceram os anos da «Troika».
O CDS quase desapareceu porque Assunção Cristas transformou-o num partido social-democrata e os seus militantes deram voz aos partidos de direita Intervenção Liberal e Chega.
O PCP não resistiu à juventude do BE e do Livre mas o BE teve o mérito de resistir ao magnetismo do PS.
E agora? O PS escolheu o caminho mais difícil, governar sozinho. Sempre que escolheu este caminho, morreu na praia: Mário Soares, 1976-78, Guterres, 1999-2002, Sócrates, 2009-2011. Mas também morreu na praia acompanhado: de Freitas do Amaral (CDS), 1978, e de Mota Pinto (PPD), 1983-85.
A vinculação dos votantes a cada partido é impressionante e simétrica. Os dois maiores partidos têm uma média de 35% de votos, cada um, consideradas todas as votações, desde 1974. Significa que, juntos, têm tido sempre entre 65% e 70% de votos, com estragos tremendos nos pequenos partidos graças ao Método de Hondt. Por ex., este ano, só tiveram 64,55% dos votos mas 180 deputados, o que equivale a 81% dos do hemiciclo. Podem fazer as reformas necessárias. Se quiserem.

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