A opinião de ...

Chora agora, Portugal, os filhos que abandonaste

O INE (Instituto Nacional de Estatística) divulgou no passado dia 25 de Julho os primeiros resultados – ainda que preliminares - do Censo 2021.
Glória Lopes, jornalista do MB (Mensageiro de Bragança) trouxe-nos uma síntese bastante completa desses resultados na edição nº 3843 (29-07, a páginas 4-5) e, por isso, não importa agora repetir números mas sim exaurir as causas da tragédia demográfica que o país vive, principalmente nas últimas seis décadas.
Desde 1993, chamo a atenção para a necessidade de uma política demográfica pública que só aconteceu ao longo dos quatro anos em que Elisa Ferreira foi Ministra do Planeamento (1995-1999) revelando o Censo de 2011 o efeito dessas políticas no crescimento demográfico das pequenas cidades médias como Bragança, Covilhã, Vila Real, Viseu, Castelo Branco, Évora e de contenção da hemorragia em cidades como Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Abrantes, Chaves, Tomar, Viana do Castelo e Beja.
Acontece que o efeito dessas políticas, abandonadas pelos decisores políticos posteriores, esbateu-se tragicamente com as crises económicas de 2003 e de 2010 e, se a situação demográfica do Interior já era frágil, mais frágil ficou.
Como causas da hemorragia demográfica, de jovens e adultos, temos obviamente as crises económicas, de sempre, desde 1880, e as mais recentes, de 1983, de 1993, de 2003 e de 2010 mas também a ausência da tal política demográfica pública, de apoios à natalidade e de incremento da expansão económica de algumas regiões do Interior do país.
Eis-nos agora na dramática situação de ter perdido 214.000 habitantes, em 10 anos, de termos mais 500.000 mulheres do que homens, de estarmos muito mais envelhecidos do que há 10 anos (de 19% para 22% de pessoas acima dos 64 anos e de 22% de crianças e jovens abaixo dos 24 anos para 20%, nas minhas projeções). Mas eis-nos também na terrível constatação de que a população portuguesa iniciou o seu ciclo de morte porque nos poucos concelhos onde a população cresceu, apesar de pouco, tal crescimento se deve à população imigrante, casos dos concelhos da península de Setúbal, do de Braga, de alguns da da área metropolitana de Lisboa e de outros da parte norte da do Porto, dos do Algarve litoral e ainda do de Odemira.
A Região Norte perdeu 100.981 habitantes nos últimos dez anos. A análise por concelhos revela que só o de Braga teve um crescimento digno de registo, de 6,5%, para 193.333 habitantes. As perdas, em alguns municípios da Região ultrapassam os 20% e em muitas freguesias os 40%. É uma situação de profundo desastre. Cidades com alguma capacidade de atração (Chaves, Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Mirandela, Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Santarém, Abrantes, Tomar, Coimbra, Évora e Beja, caíram como baralhos de cartas. Só se salvou Torres Vedras.
O Distrito de Bragança perdeu, na média, 10% da sua população, para 122.623 pessoas mas Torre de Moncorvo perdeu mais de 20%. Porém, há ilhas de resistência: a cidade de Bragança e arredores e a freguesia de Palaçoulo, esta onde está a melhor escola profissional do país, querem resistir.
O Concelho de Bragança perdeu 2,2% da sua população, para 34.380 pessoas. Foi de todos os concelhos capitais de Distrito o que resistiu melhor. A sua análise por freguesias revela alguma pujança em Sé, Santa Maria e Meixedo (+666 pessoas) mas foram Samil (150) e Gimonde (19) que mais cresceram percentualmente.
As perdas principais reproduzem o fenómeno nacional da interioridade: são as mais afastadas da sede de concelho que mais perdem e as mais próximas que mais ganham. Mas, no geral, é a uniformidade da perda e dos seus números que impressionam evidenciando os efeitos da centralização. No Interior, de Norte a Sul, no rectângulo Chaves-São Bartolomeu de Messines e Bragança – Castro Marim, só o concelho de Viseu e o Algarve litoral resistiram à voragem.
Há que reagir. E em força!

Edição
3845

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