A opinião de ...

Abusos sexuais na Igreja: a nuvem e Juno

Os papas Bento XVI e Francisco I colocaram – e muito bem - na agenda a desocultação dos crimes sexuais por alguns membros da Igreja Católica. Entre estes crimes estão a violação, a exploração e manipulação sexual e ainda a chantagem sexual e moral sobre pessoas, menores e maiores, de ambos os sexos.
A pressão social sobre a Igreja Católica, enquanto entidade social e moralmente comprometida, no Ocidente, obrigou a Instituição a colaborar na denúncia dos actos praticados e, situação mais difícil, a submeter os praticantes à lei civil.
Em todos estes casos há, no entanto que separar a nuvem de Juno.
Em primeiro lugar, há que dizer que a grande maioria dos membros da Igreja Católica não praticou qualquer acto menos legítimo e, por isso, não se pode condenar a Igreja no seu todo.
Em segundo lugar, os membros da Igreja têm de convencer-se de que são membros da Sociedade Civil e que, enquanto tal, estão sujeitos à Lei desta. A Igreja não pode albergar criminosos, sejam eles de que espécie forem.
Em terceiro lugar, há que dizer que esta purga na Igreja Católica não pretende acabar com a Igreja embora esse seja o desejo de metade da população do Ocidente, motivada por razões pouco justificadas. O mais que essa metade conseguirá será substituir a Igreja Católica por outra, eventualmente menos sólida e menos pura, porque o fenómeno religioso é universal e inerente à vida humana.
Chegados aqui, todos temos o dever de cidadania de incentivar a denúncia e de denunciar, desde que não seja por motivações de vingança. De qualquer modo, há que contextualizar os casos e submetê-los à leitura social, moral e legal de cada momento histórico. Por exemplo, querer julgar a ocultação por D. Manuel Clemente de uma abuso sexual praticado há 30 anos, em que é a vítima a solicitar o silêncio, à luz da leitura de hoje, parece-me exagerado, levantando até alguns dilemas morais que dividiriam certamente ao meio o julgamento da população portuguesa.
Por isso, há que ter calma e ponderação nesta voragem de transparência não turbando a visão de Juno pela nuvem da vingança e da precipitação. E há que distinguir entre o que foi abuso de uma simples conversa orientativa, que até pode ter sido de louvar, mesmo que não sabiamente conduzida.
A Igreja Católica resistirá a mais esta provação que servirá para a des-santificar positivamente e a tornar mais humana e mais acessível às pessoas. Os padres e consagrados (as) não são enviados de Deus mas apenas designados por uma instituição humana como mediadores entre os homens e Deus. Não foi Deus quem os ungiu mas sim um outro mediador designado por homens colocados também na missão de chegar a Deus.
Chegados aqui, fará muito bem à Igreja Católica ficar mais humana, mais transparente, mais dialogante e, oxalá, mais santa.

Edição
3896

Assinaturas MDB