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A Sociedade XV – A vida na Vila

As vilas ou cidades tinham um centro urbano e uma periferia que era muito semelhante às aldeias. Desde logo porque esta periferia era habitada por agricultores. Estes tinham a vantagem de poder aceder a trabalhos na vila, quando estavam desocupados dos trabalhos agrícolas.
Mas na vila a vida era muito mais fácil porque o comércio e os arremedos de indústria e serviços o permitiam. E era nas vilas que em geral se faziam as feiras 3 vezes por mês, o que fazia afluir às vilas o pouco dinheiro que havia. Para os mais jovens, mas também para os outros, hoje, o comércio mais curioso que havia era o sóto. Este era um estabelecimento comercial que basicamente vendia de tudo, o que a vila tinha para vender. Sem variar, tinha um balcão de madeira, velho e sovado, muito sovado, brilhante da gordura dos séculos. O chão era forrado de tábuas tortas e irregulares. De calçado a bacalhau, de lonas de azeitona a pregos, de roupa nova a usada, e tudo o mais possível. Foram desaparecendo pela especialização do restante comércio.
As vilas mais prósperas eram aquelas onde passava o comboio, que trazia artigos e novidades, abastecendo os comércios com as mesmas. Os sótos foram definhando.
Os comércios eram prósperos, pois havia uma grande população, sensivelmente o dobro da actual. Também não existiam ainda os novos sótos, que são hoje os supermercados.
De entre os comércios mais correntes havia aqueles dedicados às roupas e os alfaiates. Aqueles que vendiam alimentos, como hortícolas e frutos, faziam-no em geral em baixos, falhos de condições, mas eram frequentemente lavradores que os traziam das suas hortas, as hoje chamadas cadeias curtas.
Naturalmente que havia a construção civil, com algum material de construção, com carpinteiros e serralheiros e vidraceiros a reboque. Todos estes criavam trabalho, mesmo que não permanente, que fazia a diferença face à vida na aldeia. A construção de casas e armazéns, ou a sua recuperação, eram garantia de uma maior dinâmica, que beneficiava estes centros urbanos.
Outra profissão com destaque era a dos latoeiros. Faziam os cântaros e as remeias, instrumentos de medida por volume largamente utilizados. Os caldeiros que eram vasilhas cilíndricas baixas com uma infinidade de usos, desde as viandas dos porcos, ao transporte de água, aos cinchos do queijo e a tudo aquilo que possamos necessitar para transporta líquidos ou pastas. Nos caldeiros se coalhava o leite. Qualquer recipiente em lata que se necessitasse, era aqui manufacturado.
Os marceneiros, parentes dos tanoeiros, eram os magos da madeira, para móveis. Sem usar um prego faziam maravilhas entalhando, cravando, e biselando com mestria. Se a um móvel caía um nó da madeira, eram capazes de o substituir por outro idêntico. Os tanoeiros faziam e reparavam pipas, barris e tonéis. Sem vazar e sem tecnologia de polímeros ou metalomecânica. A produção generalizada de vinho para consumo em casa, garantia o progresso destes artífices.
Sótos, como os iquêá, ainda não existiam.
Mas os mais frequentados, às horas certas, eram os cafés, onde se carteava e falava tudo o que podia ser falado.

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