A opinião de ...

Túmulos Reais

Desde 2016, acompanhámos o processo de abertura, conservação e restauro do túmulo do rei D. Dinis. Ensejo para percorrermos os seis panteões onde repousam vinte e oito reis da Monarquia Portuguesa, assim como seis túmulos individuais. Façamos então um périplo pelos locais de eterno descanso dos reis referentes a 4 dinastias: Afonsina, Joanina, Filipina e de Bragança.
1. Mosteiro Crúzio de Santa Cruz de Coimbra. Fundado em 1131, no reinado de D. Afonso Henriques, acolhe os dois primeiros monarcas: D. Afonso Henriques e o filho D. Sancho I.
2. Mosteiro Cisterciense de Alcobaça. Fundado em 1153, no mesmo reinado, alberga três reis da 1.ª Dinastia: D. Afonso II, D. Afonso III e D. Pedro I.
3. Mosteiro Dominicano da Batalha. Mandado fazer em 1388 por D. João I, jazem os quatro primeiros reis da 2.ª dinastia: D. João I, D. Duarte, D. Afonso V e D. João II.
4. Mosteiro dos Jerónimos de Lisboa. Construção iniciada em 1501 sob a égide de D. Manuel I, estão depositados os corpos dos quatro restantes reis da 2.ª dinastia: D. Manuel I, D. João III, D. Sebastião (acreditando-se no resgate do corpo pós Alcácer-Quibir) e D. Henrique.
5. Monasterio de San Lorenzo do Escorial de Madrid. Entre 1581-1640, Portugal foi governado por três reis espanhóis no contexto de União Dinástica: Filipe I, Filipe II e Filipe III, representantes da 3.ª Dinastia.
6. Mosteiro Agostinho de São Vicente de Fora de Lisboa. O início da construção data de 1582 e a inauguração de 1629, no tempo dos reis filipes. É a derradeira morada de doze dos catorze reis da 4.ª Dinastia de Bragança: D. João IV, D. Afonso VI, D. Pedro II, D. João V, D. José I, D. João VI, D. Miguel, D. Maria II, D. Pedro V, D. Luís, D. Carlos e D. Manuel II.
Restam seis monarcas que não têm os restos mortais em nenhum dos referidos panteões. D. Sancho II (†1348) tem como morada eterna a Catedral Primada de Toledo. Aqui se exilou depois de ter sido excomungado e deposto pelo Papa Inocêncio IV, em 1245, e substituído no trono pelo irmão mais novo D. Afonso. Relativamente a D. Dinis (†1325), referido no início do texto, deixou em testamento ser sepultado no Mosteiro de S. Dinis, por si fundado em Odivelas, cerca de 1295. Quanto ao filho Afonso IV (†1357) decidiu-se pela Sé-Catedral de Lisboa, rompendo a tradição de os reis serem sepultados num mosteiro. Mas se o pai interrompeu a sepultura régia no Mosteiro de Alcobaça, o filho, que esteve em guerra com D. Dinis nos últimos anos do reinado deste, ignorou a derradeira morada do progenitor. Em relação ao último rei da 1.ª Dinastia, D. Fernando (†1383) fez-se sepultar no convento de S. Francisco em Santarém. Atendendo a degradações sofridas com as Invasões Francesas e o abandono do espaço conventual em 1834, aquando da extinção das Ordens Religiosas em Portugal, a sua arca tumular foi transferida para o Museu Arqueológico do Carmo, em 1875.
Saltamos da 1.ª para a 4.ª Dinastia, onde residem as duas últimas exceções de sepultamento em panteão régio: D. Maria I e D. Pedro IV, que não estão no panteão dos Bragança. D. Maria I (†1816) faleceu no Rio de Janeiro, para onde foram a família real e a corte à conta das Invasões Francesas (1807-1811). Foi inicialmente sepultada na então capital do Brasil, no Convento da Nossa Senhora da Ajuda. Em 1821, com o regresso a Portugal de D. João VI, o túmulo da rainha fez a travessia do Atlântico e foi colocado na Basílica da Estrela, que ela tinha determinado erguer em 1779. Quanto ao caso de D. Pedro IV (†1836), rei de Portugal e 1.º imperador do Brasil, resignando a ambos para combater o irmão D. Miguel em nome do trono para a filha D. Maria da Glória, morreu no Palácio da Ajuda. Contudo, deixou firme o propósito de ser sepultado no Rio de Janeiro, legando o coração à igreja de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, cidade que o acolheu e apoiou na guerra civil de 1826-1834 contra D. Miguel.
Quanto ao dito Panteão Nacional, inaugurado pelo Estado Novo na Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, em dezembro de 1966, é sobretudo panteão republicano, de diversidade tumular.

Edição
3942

Assinaturas MDB