Escritores de Pedestal: José Saramago
No dia 7 de dezembro de 1998, um português de 76 anos nascido numa família de fracos recursos e natural duma humilde terra do nosso Ribatejo, recebia, em Estocolmo, o Prémio Nobel da Literatura – o primeiro e, até à agora, único conferido a um escritor português.
Esse português dava pelo nome de José de Sousa Saramago, e a terra em que nasceu chamava-se (como ainda hoje), Azinhaga, no concelho da Golegã.
Devido às dificuldades com que, nesta terra se vivia, muitos dos seus habitantes, nos quais se incluía a família de José Saramago, resolveram procurar novas paragens nas quais pudessem encontrar outras condições de vida. Ainda aquele não perfizera dois anos de idade, quando foi com a família para Lisboa, à procura de mais e melhores oportunidades. Contudo, foi a poder de muita luta e sacrifícios que a família cresceu e levou a crescer a sua descendência.
A vida em Lisboa não se lhe tornou fácil, pois os fracos recursos económicos da família não lhe permitiam a dedicação total ao seu percurso académico, no qual cedo revelou sinais de interesse literário. Matriculado no Liceu Gil Vicente, que frequentou durante dois anos, mostrou ser um aluno aplicado. Mas porque aí o preço das propinas começou a desequilibrar as finanças familiares, viu-se obrigado a seguir outro caminho em que aquelas fossem mais fáceis de suportar, o que o levou a matricular-se na Escola Industrial Afonso Domingues, cujas propinas eram mais baratas, tendo completado aí a sua formação. Por outro lado, este curso proporcionava--lhe uma melhor saída para a vida ativa.
Após o curso técnico de serralheiro mecânico, facilmente encontrou emprego adequado à sua formação no Hospital de S. José de Lisboa. Conscientemente dedicado ao trabalho, conseguiu, por mérito próprio, subir nesse emprego, e assim, passar a contar com algum poder económico para, paralelamente, se dedicar à escrita, contando também com a sua força de vontade e persistência que lhe eram inerentes.
O seu autodidatismo foi-lhe proporcionado, essencialmente pelas leituras nas bibliotecas públicas, e também na biblioteca da escola técnica, onde adquiriu o saber que, certamente, contribuiu para velejar e rumar com maior segurança no campo literário.
Passando por vários empregos, onde nem sempre encontrou a sua verdadeira e intrínseca vivência, foi expressando o seu pensamento nas muitas publicações que se sucederam, em que não foi despicienda a poesia.
Apesar disso, só depois da publicação do livro “Levantado do Chão”, (1980), cujo enredo se passa no Alentejo, denunciando os sacrifícios e a humilhação dos proletários rurais, é que a crítica literária se voltou para a mensagem que o seu autor aí deixou expressa.
Foi este o primeiro livro de José Saramago que eu li. De tal forma fiquei impressionado que, passados vários anos, ainda me magoa a mensagem que ele contém.
Na verdade, o enredo fez-me passar muito tempo a interioriza-lo e a compreendê-lo, obrigando-me, por vezes, a colocar-me no lugar do autor e a revelar quanta verdade ali existe. Depois, a maneira de escrever, com longos períodos, sem a pontuação imposta gramaticalmente, num estilo verdadeiramente coloquial, foi uma surpresa que também me marcou; e mais ainda porque foi neste livro que iniciou esta forma de comunicar por escrito.
Entre 1982 e 1983, publica “Memorial do Convento,” que para muitos constitui a sua obra--prima, a partir da qual começou a sua consagração. Seguem-se: “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, “A Jangada de Pedra”, a “História do Cerco de Lisboa”, e em 1991, “O Evangelho segundo Jesus Cristo” (obra que gerou enorme polémica com a Igreja). E ainda antes de ganhar o Prémio Nobel da Literatura de 1998, o “Ensaio sobre a Cegueira”. Posteriormente a ter recebido aquele galardão, vieram à estampa, entre outros, o “Ensaio sobre a Lucidez”, “A Viagem do Elefante” e o romance “Caim”.
Morre com 87 anos, em Lazarot, (Canárias, onde vivia com a sua mulher Pilar del Rio e onde existe a Casa-Museu José Saramago), após ter sido instituída a Fundação José Saramago.
As suas cinzas encontram-se depositadas junto ao tronco de uma oliveira transplantada da sua terra natal, em frente da Casa dos Bicos, em Lisboa.
Fontes: Levantado do Chão, de José Saramago; Biografia JOSÉ SARAMAGO, de João Marques Lopes e Internet,