A opinião de ...

Não se pode ter tudo

Quase para todos, sobretudo na infância, foram sem conta as vezes que os nossos pais nos repetiram este título.
Pretendiam transmitir-nos as dificuldades que a vida nos vai presenteando e, sobretudo, a exigência de escolhermos o fundamental, de aprendermos a distinguir o essencial do acessório, de sabermos compreender o que mais falta nos faz.
Aos dias de hoje, pela idade ou pela experiência de vida vamo-nos apercebendo que efetivamente os nossos progenitores tinham mesmo razão.
Ainda que vivendo numa época em que parece, ao contrário, que sim, que se pode ter tudo ou quase de tudo, as crises sanitárias, como a do Covid-19, as crises económicas (dívida pública, custo de vida, etc), ou as crises ambientais e as crises energéticas vêm-nos trazer esta verdade nua e crua, que nem as ajudas de todo o tipo que nos vai chegando da União Europeia tornam possível contornar tal realidade.
Assim, no meio de uma temporada de eleições que se avizinham, nomeadamente as legislativas e as europeias e que não surja outra pelo desvelar de emails e outras inferências..., importará usarmos do nosso melhor pensamento crítico, pese embora envolvidos já no espírito natalício, de bonomia e magnanimidade, para analisar as mensagens e propostas de algumas lideranças políticas que nos querem fazer crer que se pode ter tudo sem ter que fazer escolhas do essencial e renunciar ao que é menos importante.
Sabendo-se precisamente que a política é a arte de pensar e gerir o poder de acordo com prioridades e conceções prévias, por estes dias, importa perceber a mensagem das lideranças políticas e aferir do grau de demagogia dos que querem estar de bem com todos, dos que prometem o que se pode e o que não se pode, dos que querem agradar a tudo e a todos, que concordam com uma coisa e a sua contrária, pois sabemos que na vida real não é possível “sol na eira e chuva no nabal”.
A realidade igualmente impõe-se-nos e faz-nos ver, pela maturidade e com inteireza, que a política é tanto mais importante para qualquer pessoa e em qualquer sociedade quando, indo para além dos anúncios e das promessas, se mostra preocupada em fazer e sobretudo em agir, dispondo os meios em relação aos fins e pensando os fins em relação aos meios.
A decisão política, por isso, deve ser inspirada por aquilo que, aqui e agora, é possível realizar, com uso de uma certa intuição criadora, pela mediação necessária com as instituições e organizações presentes e atuantes na vida da sociedade, mas sobretudo pela proximidade às necessidades, aspirações e anseios fundamentais que polarizam a vida das pessoas, em observação pela coesão comunitária e do bem comum.
O Natal é um tempo propício também para compromissos de reflexão em ordem a uma sociedade mais justa e mais fraterna.

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