A opinião de ...

Na altura em que deixamos de ser pessoas e passamos simplesmente a ser “idosos”

A nossa sociedade de hoje está, e cada vez mais, a ser mais massificada pondo-se de lado os valores humanos e os princípios éticos que nos foram ensinados pelos nossos ascendentes. Vivemos, cada vez mais, numa sociedade “descartável”, não só foi substituído o ser pelo ter, como, pouco a pouco, na vida só contam os números, como se um ser humano fosse um objeto que, uma vez usado, se deita fora…Vem isto a propósito de uma notícia que li há pouco tempo num jornal que leio habitualmente, e que tinha por título: “Casal de idosos morre afogado numa piscina”. Não é contra o jornalista (ou a jornalistas) que protesto, mas sim contra uma certa mentalidade que, com a “massificação” e o afastamento dos princípios humanistas, que nos foram (pelo menos a mim foram) transmitidos pelos nossos ancestrais e que, como professor de História, transmiti aos meus queridos alunos. Enquanto somos novos, somos tratados pelos nossos nomes próprios, mas quando temos uma certa idade, passamos à categoria de “Idosos”, ou seja, um “ser” não identificado que faz parte de uma “massa” anónima…Como se estivéssemos na antecâmara da morte, já na “prateleira”…Antigamente a idade era valorizada (como sinal de experiência, de sabedoria, de transmissão de valores…) diziam qua a antiguidade era um posto, hoje somos todos descartáveis…e as notícias refletem exatamente isso. A partir de certa idade já não somos o António, o Manuel ou o Francisco…passamos a ser “o idoso, ou a idosa” e a notícia muda também. Deixamos de ser: “O António foi atropelado numa passadeira” para “Um idoso foi atropelado numa passadeira” de “o Manuel e a sua esposa fulana de tal, morreram afogados numa piscina” para “Um casal de idosos morreu afogado numa piscina”...ou seja passamos de pessoas identificadas, com uma vida por vezes muito trabalhosa, para sermos “carimbados” num anonimato impessoal. Volto a dizer que não quero culpar os jornalistas (ou quem quer que seja que usa essa expressão), mas isto reflete a “massificação” e a falta de valores humanistas desta nossa sociedade cada vez mais materialista e “formatada” por princípios que não valorizam os seres humanos, enquanto tal. Eu acredito no Homem enquanto tal, repugna-me ver um ser humano ser tratado assim como uma “peça”, por isso escrevo esta minha “opinião”, que quero partilhar convosco e peço para que meditem nela.

Edição
3911

Assinaturas MDB