A opinião de ...

Árvore da Vida

No princípio deste ano, dei comigo a olhar para o que escreveram cronistas deste Jornal. Jornal de cuja grande humildade intelectual ninguém pode duvidar (que fez 82 anos!). Os cronistas trazem as suas mensagens, ajudando-nos a crescer, refletir, analisar, optar. Também, a subtrair-nos de canseiras tantas.
Em particular, por estarmos vivendo um período de reflexão sobre grandes problemas que nos afligem, gostei de reler o texto de Manuel Gouveia (MG), A árvore que não dava frutos. Igualmente, A árvore solitária. O cronista transporta-nos para o mundo rural, natural, humano – parece que estamos lendo Torga ou Aquilino, o mundo da autenticidade que não queremos perdida, apesar de já nos estarmos transformando em citadinos, como lembra Luís Filipe Guerra em “culturas telúricas” também no Mensageiro de Bragança.
Não vou alongar-me sobre o que o sr. Augusto, personagem criada por MG, engendrou para que a sua bela árvore desse os frutos desejados – os “bons frutos”, como refere a Bíblia, na sua razoável interpretação.
Deixo somente algumas ideias.
Podemos atribuir vários significados à “árvore da vida”. Todos os povos, ao longo dos tempos, respeitaram e admiraram a Árvore: os judeus com a sua árvore sefirótica; os assírios com a sua árvore ishtar; os celtas com a sua crann bethadh; os nórdicos adoravam a árvore yggdrasil; os budistas a sua árvore bodhi E nós, aqui neste recanto, como olhamos para os majestosos castanheiros e sobreiros? Não é verdade que é também uma certa adoração que nos faz apelo? Em África, na Guiné, por onde andei na guerra colonial e, depois, como cooperante durante alguns anos e acompanhado da minha mulher, ambos pudemos apreciar o valor atribuído à árvore – é ao poilão que me refiro. Em esteiras sentados sob a sua sombra e custódia, os “homens grandes” da tabanca (aldeia) discutem os assuntos que dizem respeito à vida social, económica e religiosa (mesmo os católicos se sentam sob a sua imensa copa para discutir os assuntos que preocupam todos…).
Afinal, o que significa este carinho, este amor à Árvore? Por certo, a fertilidade, o olhar para os céus sem perder o sentido terreno da sobrevivência, a iluminação do espírito, a sabedoria da temperança, o gesto da gratidão – e tudo o mais que a Árvore nos concede.
O apelo é este: não seria excelente que pudéssemos aprender com o sr. Augusto a tratar da saúde da árvore: regando a amizade, cavando a terra da intergeracionalidade, cultivando a paz, olvidando ódios e invejas? Temperança – expressão que o sábio Sócrates utilizava junto dos seus discípulos – é do que precisamos. O diálogo repousado na diferença e na capacidade de ouvir o Outro. É sempre tempo de saber escutar, e, agora, em especial, na discussão durante a campanha eleitoral.
Nota final. O Senhor D. José Cordeiro vai servir a palavra de Deus a outros homens noutras paragens. Apenas ouvi e vi pessoalmente o então Bispo de Bragança e Miranda nas Jornadas de Balsamão de 2021. O que dele li, creio saber interpretar o elevado significado da “árvore da vida”. Obrigado.

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