A opinião de ...

As últimas eleições

No passado dia trinta de janeiro, deste ano da graça de 2022, decorreram, então, as últimas eleições legislativas.
Já falei aqui sobre a razão dessas eleições: a dissolução da Assembleia, na sequência do chumbo do orçamento apresentado pelo Governo para o ano de 2022.
É de todos sabido que o resultado da votação foi, para o País, uma enorme surpresa, pois mexeu muito com a constituição do Parlamento: em primeiro lugar, a maioria absoluta conquistada pelo PS, (o que fez com que o mapa do País, excetuando a Madeira, assumisse um tom rosa); depois, a enorme perda de mandatos dos partidos mais à esquerda – o PCP e o Bloco, enquanto o PEV e o CDS deixaram de ter representação na Assembleia; e ainda a subida do Chega ao terceiro lugar, bem como o reforço da representação da Iniciativa Liberal.
A maior surpresa foi, no entanto, a maioria absoluta alcançada pelo PS, partido que conquistou alguns bastiões tradicionalmente do PSD, como Bragança, Viseu e Leiria, assim como do PCP, ao afastar do hemiciclo o próprio líder parlamentar que havia sido eleito por Évora, bem como o histórico que representava Santarém.
Na campanha, foi quase uníssona e preocupante a voz dos partidos sobre o perigo duma maioria absoluta, em democracia.
Na verdade, todas as preocupações foram no sentido de que a maioria absoluta prejudica o diálogo, sem o qual não poderão ser discutidas as medidas que constam do orçamento do Governo, a menos que, sem embaraçante prejuízo da sua linha condutora, este entenda que, para governar melhor, precise de conhecer as várias opiniões e sugestões dos outros partidos. Foi o PS, pela voz do seu Secretário-Geral, que se predispôs a esse diálogo, no discurso que pronunciou na noite em que foram conhecidos os resultados. A frase que está na base dessa predisposição foi por ele dita bem alto e em voz perfeitamente audível; “A maioria absoluta não significa poder absoluto”, frase que se obrigará a ter presente no decorrer do seu mandato, e que, por isso, não precisará, de lhe ser lembrada.
Esta aceitação do diálogo creio evidenciar, pelo menos, dois sentidos: um de compromisso, que terá de honrar, e outro de apaziguamento. O país, tão sacrificado por tudo quanto suportou nos últimos anos, precisa de tranquilidade, de estabilidade e, sobretudo, do cumprimento das promessas que lhe foram feitas. Em quaisquer circunstâncias, e nesta particularmente, o povo não pode ser objeto de desilusões. Se as promessas forem minimamente cumpridas, também a esperança que resulta da confiança por quem assumiu a responsabilidade de governar trará o alento necessário para serem enfrentadas e minimizadas, embora com algum esforço, as desafiantes dificuldades que se perfilam perante a sociedade.
Não pode deixar de compreender-se que bons governantes serão aqueles que, desta forma, se propõem melhorar o seu mandato, ao discutirem e terem em conta ideias da oposição.
Então, como o partido da maioria absoluta afirma que o seu orçamento contém as melhores propostas (eventualmente melhoradas) que hão de fazer reerguer este grande país, acreditamos e ansiosamente aguardamos que, paulativa mas seguramente, este consiga reerguer-se e assumir, com dignidade, a grandeza que lhe cabe por direito.

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