A opinião de ...

Há alternativa ao castanheiro?

Começou a época da apanha das castanhas, o ouro das terras entre Bragança, Vinhais e Chaves, que este ano, tudo o leva a crer, não movimentará tantos milhões de euros.
Isto porque, como deixa em evidência a paisagem de soutos, os castanheiros apresentam-se com ouriços não desenvolvidos, pequenos, mal abertos, e com castanhas algo mirradas que com certeza originarão dificuldades para a sua comercialização e consumo.

O produto agrícola mais rentável e fonte de rendimento para uma elevada percentagem da população das aldeias deste Interior, está seriamente ameaçado, o que originará inevitavelmente importante impacto social, que somado às dificuldades advindas das taxas de juro e do aumento do custo de vida, fará com que muitas pessoas atravessem dificuldades financeiras maiores.

Urge por isso, colaborativamente, prosseguir o esforço de combater as causas que originam as doenças e as pragas e os seus efeitos, agregando ajudas técnico-científicas para o efeito, bem como o de concretização de estratégias de atenuação da seca, a consequência mais devastadora dos efeitos das alterações climáticas.

Contudo, neste momento, o que os produtores mais esperarão é que lhe sejam proporcionadas ações efetivas e justas de apoio económico para reporem tão breve, na medida do possível, o seu potencial produtivo e que os ajudem a potenciar não só a manutenção, mas também a exponenciação desta atividade.

Seria desastroso vermos desaparecer a cultura do castanheiro em Trás-os-Montes até porque não se vislumbra alternativa tão rentável, a que se aduz a distinta marca da sua presença na paisagem e a que se soma, com não menos importância, o inefável gosto de degustação que proporciona uma castanha assada ou nas suas outras possíveis declinações gastronómicas.

Aliás, quem não consideraria igualmente triste que esta grande tradição festiva do magusto, que acompanha a chegada do outono e cuja origem remonta há milhares de anos atrás, deixasse de existir? Esta festa cuja origem se fundava na crença de que a castanha era o símbolo da alma dos defuntos, razão pela qual se venerava e se ritualizava numa festa cujo nome deriva do latim “Magnus Ustus” que significa “grande fogo”?

Também por isso é de louvar todos os esforços feitos, como o da Confraria Ibérica da Castanha ou de Juntas de Freguesia, como a de Carrazedo de Montenegro com a Castmonte, mas especialmente dos diferentes municípios, como o de Vinhais, com a Rural Castanea, ou o de Bragança, que em anos anterior liderou a organização da Feira Internacional do Norte Norcaça, Norpesca, Norcastanha, sequência da “Norcastanha” dos anos de 2007 a 2009, para realizarem eventos que promovem o castanheiro, a castanha e os seus produtores, como alguns dos valores mais importantes e emblemáticos do seu território

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