A opinião de ...

Europa, Europa, o que és tu?

Nada melhor para a fermentação do ódio do que actos vis depois de promessas de bem-estar e de felicidade. Refiro-me ao modo como a Europa lidou com a questão dos refugiados afegãos, sírios e iraquianos prometendo-lhes calorosa recepção no mundo dos ricos para lhes oferecer apenas campos de refugiados na Turquia.
Armand Jean du Plessis, Cardeal da Igreja Católica, Duque de Richelieu e de Fronsac, e por isso conhecido como Cardeal de Richelieu, Primeiro-Ministro de Luís XIII, em França, entre 1628 e 1642, que ficou conhecido como introdutor na modernidade política da legitimação das decisões particulares pela sua apresentação como questões de interesse público através da «Raison d`État» («Interesse do Estado ou interesse público») ajuda-nos a compreender como puderam os dirigentes europeus ser tão cobardes, tão hipócritas e tão sem humanidade ao fazerem o acordo que fizeram na passada semana com a Turquia a fim de ali serem retidos os refugiados, a troco de avultadas quantias de dinheiro (fala-se em seis mil milhões de euros) que serão pagas por todos os europeus.
Nicoló Machiavelli (1497) já tinha ensinado os seus príncipes protectores a tratarem as questões de Estado sem emoção e sem sentimento de humanidade mas Richelieu consagrou este ensinamento em formulação política – o interesse público.
E que interesse público pode ser invocado para não receber os refugiados depois de se ver o rabinho a arder por não se ter tido o cuidado de analisar a sua proveniência e a sua heterogeneidade em tempo útil ou no devido tempo e se ter constatado entretanto que muitos deles não só não eram refugiados como podiam trazer consigo o gérmen do terrorismo?
O cidadão médio interrogava-se face às imensas colunas de migrantes, sobre a constituição real daquelas multidões apelidadas de refugiados mas as elites europeias só ao fim de um ano foram capazes de constatar o óbvio: não só são constituídas em mais de 95% por pessoas indocumentadas como também o aspecto físico da maior parte dos homens jovens levantava suspeitas.
À boa vontade da Senhora Angela Merkel em querer rejuvenescer a população Alemã com tanta gente jovem, contrapôs-se, por um lado, o cepticismo dos ex-países da União Soviética (Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia, Eslovénia, Roménia, Bulgária) sobre as condições de segurança e de bem-receber aquela gente toda e, por outro, as dúvidas da população alemã e da de outros países ocidentais sobre as suas capacidades de integração. E as dúvidas foram-se instalando até à rejeição e ao controlo apertado das entradas no mundo ocidental.
Se os países ocidentais começaram mal esta trapaça mal a terminaram porque fazer um acordo com a Turquia para estancar e deixar abertas as portas da Grécia e da Itália já é um mal em si. Mas não ter sequer pensado que a abertura à troca de iraquianos e sírios por turcos os poderia colocar na Europa na qualidade de turcos naturalizados acrescenta um «mal du monde» ao futuro da Europa. Pensar na desumanidade, na irresponsabilidade e na incompetência que tudo isto representa é um xeque-mate às elites europeias. Náo è sô próblema dô Brásiil, náo.

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