A opinião de ...

Deus nos proteja a todos

Unidades do exército, da marinha, da força aérea, dos serviços de comunicações e das tecnologias de informação e comunicação russos invadiram, em 23 de Fevereiro de 2022, a Ucrânia, a partir da Rússia, a leste e a sudeste, e da Bielorrússia, a norte. As forças armadas ucranianas têm resistido como podem e muitos civis procuram abrigo nos países vizinhos: Polónia, Eslováquia, Hungria e Roménia.
As razões de Pútin para esta invasão parecem semelhantes às de Adolph Hitler para invadir a Checoeslováquia (hoje República Checa e República Eslovaca), em 1939: reunificar os impérios Prussiano e Austro-Húngaro. Pútin tenta, de acordo com o Plano Estratégico de Desenvolvimento da Rússia, de 2020, a que ninguém, no Ocidente, ligou, distraídos pelo SARZ-CoV-2, reconstituir a União Soviética de antes de 1990. São invocadas outras razões mas parece-me fazerem parte de estratégias de diversão e de contrainformação. Uma delas, porém, a da luta russa contra a entrada da Ucrânia na UE e na NATO, parece-me verosímil porque é coerente com o Plano referido.
Sejam quais forem as razões invocadas por Pútin, são inadmissíveis e impróprias de um mundo que, desde 1819, assumiu o princípio enunciado por Benjamin Constant em De L`Esprit de Conquête et d`Usurpation de que «a guerra deve ser substituída pelo Comércio». Princípio a que as democracias deram substância e incremento e as religiões cristãs deram sustento embora fora das igrejas.
Esta guerra e a resposta a ela por parte dos 30 países da NATO, acrescidos da Suécia, da Finlândia, do Japão e da Austrália, criaram uma situação particularmente perigosa porque todos estão a envolver-se nela financiando armamento e condições de sobrevivência à Ucrânia e criando sérias dificuldades à economia russa através de sanções económicas e financeiras. Que também afectarão – e muito – as outras economias.
Na prática, estão a envolver-se e podem ser objeto de declaração de guerra por parte de Pútin, que já mandou colocar em alerta a sua estrutura de ataque/defesa nuclear. Nem a NATO nem a UE estão preparadas para tal eventualidade mas esta crise veio demonstrar como os EUA tinham razão quando diziam que a Europa teria de rearmar-se e de modernizar o seu armamento. Até os EUA, de Reagan a Obama, cometeram o erro de não seguirem o ditado do imperador romano: «se queres a paz, prepara a guerra».
Amanhã, de manhã, 28-02-2022, haverá diálogo na fronteira bielorussa entre russos e ucranianos mas pouco se espera dele. Porque ninguém poderá ceder
A periculosidade desta crise está nos efeitos das sanções – que não se sentirão só na Rússia mas também no mundo inteiro – e nas armas de dissuasão, vulgo ogivas nucleares. Mas a NATO e a UE fizeram o que deveriam ter feito com um ditador absolutista: enfrentar o monstro e enfrentá-lo com determinação.
Rezemos pela Ucrânia, pelos ucranianos e por todos nós e preparemo-nos para ajudar em bens de sobrevivência. Oxalá as palavras de Adriano Moreira se confirmem: «é possível derrotar um exército mas não um povo».

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