A opinião de ...

Outra vez o “Mais Habitação”: quando a esmola é grande desconfia o pobre!

Sim, pela falta que elas fazem, isso não seria apenas bom, seria mesmo ótimo só que, como em quase tudo nesta vida, também neste caso, esse tal ótimo é inatingível, e não passa duma miragem, que quanto mais se persegue mais se afasta, e nunca se consegue agarrar, por muito que se corra atrás dela.
Na verdade, por mais teorias que se invoquem para analisar a atual crise de habitações, que, com especial dureza, aflige sobretudo as populações deslocalizadas e amontoadas nas cidades e no litoral, seja qual for a perspetiva ou angulo por que forem abordados os legítimos interesses estratégicos de tudo o que gravita à sua volta, sejam eles sociais, políticos, económicos, culturais ou outros, nunca se pode esquecer que se trata de um problema estruturante em qualquer sociedade, que se vem agravando há muitas décadas, com particular acuidade em países com a dimensão e os constrangimentos económicos como o nosso, e que só mesmo com muito tempo e dinheiro, (mas mesmo muito dinheiro), se poderão criar as condições objetivas e rentáveis, capazes de atrair o investimento particular para o mercado habitacional, a única maneira de, face à falência e à incapacidade do sector público para, colocar no mercado habitações suficientes e com preços acessíveis, que se enquadrem na capacidade de compra de quem pretende ter a sua casa.
No caso de Portugal, se ainda havia dúvidas, caíram todas com a publicação do chamado programa “Mais Habitação”, uma mera tentativa falhada de reunir no mesmo documento as “Cem maneiras de passar ao lado da crise da habitação”, bem na linha do provérbio “Presunção e água benta, cada um toma a que quer”, ignorando que:
-As casas não aparecem do nada, belas e encantadoras, com a mesma abundância com que na primavera brotam as flores da urze, da esteva e da giesta que alindam os montes da nossa terra;
-Nada de bom se pode esperar duma espécie de governo à “Zé do Telhado”, cansado, requentado e em risco de implodir que, sem que ninguém lhe encomendasse o sermão, apareceu do nada para tomar conta e arrendar tudo o que tenha paredes e telhado, público ou privado, sem primeiro saber quantas dezenas de milhares de edifícios públicos tem à sua responsabilidade que, se tivessem condições de habitabilidade, seriam suficientes para dar casa a muita gente;
-Ninguém em seu perfeito juízo entregará as suas casas para serem geridas por quem não é capaz de se governar a si próprio, gerador de trapalhada sobre trapalhada, que se multiplicam como os cogumelos no outono, reveladoras dum perigoso síndroma de incompetência e atração para o abismo;
- Para gerir a brutalidade dum sistema como o sonhado no programa “Mais Habituação” seria necessário montar uma máquina administrativa infernal, difícil de manter e impossível de controlar, o contrário do que o país precisa nesta conjuntura.

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