A opinião de ...

É carnaval, ninguém leva a mal

Era bom, era, mas onde é que isso já vai!
Agora que, com o rolar dos tempos, com raras e louváveis exceções, como o reavivado Carnaval de Carção, o cada vez mais concorrido Carnaval Chocalheiro de Podence e tantas outras realizações populares das nossas terras transmontanas, o Entrudo perdeu a magia e o encanto das coisas simples, genuínas e espontâneas de outrora, nascidas da vivência, dos hábitos e das rotinas diárias das nossas comunidades locais.
Durante anos e anos a fio, no dia de Entrudo, muitos dos acontecimentos que, fugindo aos cânones da época, mexiam com a monotonia e com as rotinas do dia a dia, eram caricaturados em “triteiradas” de improviso que, em cortejos muito concorridos à volta do povo, eram representadas no dia do Domingo Gordo e no dia de Entrudo para divertir os assistentes e os acompanhantes, bem condimentadas com muitas piadas, graçolas e críticas bem humoradas a eventos imprevisíveis como um namorico que não dera certo, um ralho entre vizinhas ou uma crise matrimonial cujo notícia saía para fora de portas, muitas vezes pela bisbilhotice de quem menos seria de imaginar.
Infelizmente, por incúria de uns tantos, ignorância de outros e irresponsabilidade de não poucos, nunca esquecendo as consequências devastadoras da atual crise demográfica que, erros imperdoáveis de sucessivas políticas de ordenamento do território que aceleraram o atual estado da quase desertificação total do interior do país, pouco ou nada do que eram esses costumes passou para os carnavais de agora, reduzindo-se estes à venda de imitações grotescas de celebrações vindas de terras com outros costumes, outras culturas e outras gentes em desfiles barulhentos e espampanantes, mais ou menos vistosos, cujas cores, coreografias e ritmos, manipulados segundo os gostos e os interesses de ocasião, porque não têm nada a ver com a nossa cultura e com as nossas tradições, não têm nada que se possa comparar com o que era a alegria e a paródia dos nossos entrudos de antigamente.
Para nosso mal, depois de o Entrudo virar Carnaval, porque a alegria dá saúde e as tristezas não pagam dívidas, ainda que contrariados, vamos tentar vive-lo da melhor maneira, extraindo dele todo o sentido lúdico desta vida.
Poderá não ser fácil mas, em compensação, e valha-nos ao menos isso, assunto não nos falta.
Nunca como no último ano, fomos tão confrontados, a todos os níveis da político nacional, com situações comprometedoras, afirmações hilariantes, negações infantis, dúvidas anedóticas, desculpas caricatas e opiniões desmioladas, provocadoras de enormes gargalhadas, impossíveis de criticar nos dias de um só Carnaval, suficientes para acrescentar mais um volume ao já extenso anedotário nacional, este agora com o título:
“A HISTÓRIA CARNAVALESCA
DO PRIMEIRO ANO
DUMA MAIORIA ABSOLUTA”

Edição
3921

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