A opinião de ...

COVID 19: - Quem nos acode, neste princípio dramático de 2021?

Pelas piores razões, e por mais que isto nos custe a aceitar, neste princípio do ano de 2021, apenas e só por culpa nossa, Portugal conquistou o ignominioso e desprestigiante galardão “do pior país do mundo a lidar com a epidemia do COVID-19”, situação que, para além de nos fazer corar de vergonha, deveria consciencializar-nos da estrema gravidade da situação em que nos encontramos, obrigando-nos a assentar bem os pés na terra para analisar responsavelmente em que é que todos falhámos no combate a esta pandemia.
Infelizmente, como se a responsabilidade fosse só dos outros, estamos todos confrontados com a situação dramática de viver num país onde, em menos de cada cinco minutos, morre uma pessoa vitimada pelo COVID-19, um país que vive à sombra das glórias da sua história multissecular e que agora, enleado nas vicissitudes dum presente sem rumo e vazio de sentido, depois de perder as suas referências e os princípios sobre os quais alicerçou e construiu a sua identidade própria como povo e como nação e que lhe permitiram atravessar incólume quase dois milénio de história, agora, conforme foi publicado na imprensa europeia, deixou de ser um país e se transformou apenas “num sítio”.
Se, antes de chegarmos a esta situação, tivéssemos dado ouvidos ao muito saber de experiência feito do nosso povo, sintetizado nestes dois pequenos provérbios que nos dizem que “Cada terra tem o regedor que merece” e que “O fraco rei faz fraco o forte povo”, não estaríamos agora nesta situação delicada e confrangedora de assumir cada um a responsabilidade dos seus erros e, mais uma vez, estender a mão e pedir aos nossos amigos que nos acudam enquanto ainda é tempo.
Agora, no limiar da mais grave e mais abrangente crise da nossa história, nesta situação pantanosa em que caímos e na qual, quanto mais nos mexemos mais nos afundamos, porque, como nunca, o tempo urge, mais do que perder tempo e gastar energias,(para isso lá virá depois o seu tempo), a discutir o que se fez e o que não se fez, o que se fez bem, (e que foi muito) e o que se fez mal, (que também não foi nada pouco), chegou a hora de todos, mas mesmo todos, e cada um na proporção exata das suas obrigações, assumirmos honesta, humilde e corajosamente as nossas próprias responsabilidades, tendo a noção exata de que, nesta situação dramática, capaz de potenciar a criação duma dantesca “cidade dos homens mortos”, onde nada interessaria nem faria qualquer sentido, o tempo de inventar desculpas para adiar ou não fazer tudo o que tiver de ser feito, inexoravelmente, acabou.
Fundamentalismos à parte, mas sem titubear, se os governantes não servem substituam-se. Porque as leis são feitas para as pessoas e não o contrário, se as leis se transformaram em entraves, revogue-se. Se os serviços não funcionam, reorganizem-se. Se, numa situação limite, a própria Constituição deixar de corresponder ao que dela se exige, suspenda-se, congele-se, arquive-se ou reveja-se até porque, para se pagar dos seus tétricos serviços de passar os mortos para a outra margem do rio, o barqueiro Caronte nunca aceitará leis em troca da moeda a que tem direito.

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