A opinião de ...

Precisamos de um Papa Francisco que nos governe

O Papa Francisco cumpriu, no início desta semana, uma década de pontificado.
Um pontificado marcado pela humildade e pelo ataque aos privilégios de ricos e poderosos, sem meios nem receios.
Por cá, vemos que as dúvidas sobre o estabelecimento dos preços de bens de consumo nos supermercados são bem superiores à inflação.
Numa altura em que as famílias portuguesas lutam para pagar as contas ao final do mês devido às subidas generalizadas de preços, sobretudo em regiões frias como o Nordeste Transmontano em que os invernos convidam ao maior consumo de energia para aquecimento das casas, as grandes empresas têm apresentado brutais aumento de lucros.
Desde as petrolíferas aos bancos, passando pelos grandes grupos de retalho.
É nestas alturas que mais entram em choque as duas visões primordiais da economia. A que defende uma maior regulação por parte do Estado e a que defende que deve ser o livre mercado a regular-se, através da lei da oferta e da procura.
Em situações normais, o equilíbrio predomina. O problema são as situações anormais, que ciclicamente vão surgindo sob a forma de crises económicas, como aquela que estamos a viver atualmente e que resultou de uma espécie de tempestade perfeita: pandemia que afetou as cadeias de abastecimento, guerra na Ucrânia que afetou o fornecimento de várias matérias primas, a necessidade de aumento de juros para controlar a inflação que surgiu a reboque das duas primeiras e a especulação dos mercados.
Não tenho dúvidas que se anda como um pato e grasna como um pato então é mesmo um pato.
Sendo um momento de exceção, deveria haver mecanismos de exceção.
Regular, por exemplo, por tempo limitado, os preços dos combustíveis, como acontecia até ao início do século XXI (foi Durão Barroso que determinou o mercado livre e, desde aí, foi sempre a subir), e da energia produzida com os recursos dos portugueses, teria um enorme contributo para a descida da inflação. Isso aplacaria a necessidade de mais aumentos das taxas de juros, resolvendo metade do problema.
A outra metade está no supermercado.
As contas são fáceis de fazer. Os produtores não enriquecem com o fruto do seu trabalho, os aumentos dos transportes, diluídos pela carga transportada, são residuais. Então como se explicam os brutais aumentos na caixa registadora?
A propósito do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor (que se assinalou ontem), a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) lançou, esta quarta-feira, um roteiro com 18 propostas de medidas para as famílias enfrentarem a crise, com o objectivo de incentivar o debate público sobre as condições de vida dos consumidores e assegurar a tomada de decisões que possam “promover o bem-estar social e económico dos cidadãos”.
Entre as 18 sugestões da Deco estão, na área da alimentação, a criação de um observatório que fiscalize a evolução dos preços dos bens, bem como das práticas comerciais, e legislação que reforce a transparência e a obrigação de informação ao consumidor em produtos alvo de reduflação [quando reduzem as embalagens mantendo os preços].
Vendo a parcimónia com que o Governo trata estasquestões, chega-se à conclusão que precisamos é de um Papa Francisco que nos Governe...

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