A opinião de ...

Um polícia normal, um pai herói

Relacionado com os 100 anos de vida do Senhor Professor Doutor Adriano Moreira, veio-me à lembrança de que o seu pai foi polícia em Lisboa e da forma muito carinhosa e especial como ouvi o Professor falar dele, numa conferência organizada pela Câmara de Bragança, a propósito da publicação do livro “Este é o Tempo”, do jornalista Vitor Gonçalves. Poderia este polícia e pai ser tema para um artigo de opinião? Sem dúvida. Seria eu capaz de transmitir, pela escrita, a profusão de ideias que me afluíam todas elas moldadas pela vivência prática e emocional de um jovem, pacato e transmontano, que se faz pai, polícia e homem na confusão da capital, como também me aconteceu a mim? É que este continua a ser o caminho de muitos jovens da nossa terra que continuam a ser uns heróis na grande metrópole.
Diz o Professor sobre o início da vida do pai polícia: “O meu Pai vem fazer o serviço militar para Lisboa e, naquele tempo, quem emigrava para Lisboa, era assim: os homens tinham três saídas possíveis, ou iam para a PSP, ou iam para a Guarda, ou iam para a Carris. O meu pai foi para a PSP, passou lá a vida e acabou como subchefe ajudante na Polícia do Porto de Lisboa.” Refere que a família fazia uma vida limitada, porque um polícia, naquele tempo, ganhava muito pouco e acrescentando que “ainda hoje não ganham muito”1 (p.16). Por isso vivia-se com dificuldade e sacrifícios que se aceitavam com naturalidade. Estas dificuldades uniam a família que fazia todos os esforços possíveis para as ultrapassar (a mãe era costureira em casa, trabalhava para fora) e poder proporcionar condições aos filhos para estudar, porque era por essa via que teriam mais hipóteses de ter sucesso na vida, como veio a acontecer. Acrescenta mais tarde: “Tenho uma devoção pelo meu Pai extraordinária! Tenho o retrato dele no meu escritório, …na sala da casa, está na minha frente, tenho uma enorme devoção por ele porque acho heróico o que ele fez” (Idem p. 251).
O nosso polícia António José Moreira2, nasceu a 31.07.1898, em Carrapatas e faleceu a 13.10.1991 em Grijó, no concelho de Macedo de Cavaleiros. Foi alistado na PSP em 05.05.1923. Recebeu instrução durante seis semanas. Foi dado pronto para o serviço em 19.06.1923, como guarda de 2.ª classe, passando à 1.ª em 21.08.1926. Foi promovido a 2.º subchefe em 28.08.1931. A 1.º subchefe em 31.05.1946 e a subchefe ajudante em 01.02.1955. Foi desligado do serviço em 31.06.1958, portanto prestes a fazer 60 anos que constituía a idade limite para ser polícia.
Trabalhou sempre em Lisboa. Por um curto período de tempo esteve colocado como adido na Câmara Municipal. Foi ordenança no gabinete do Comandante Ferreira do Amaral. A maior parte da vida profissional exerceu-a na Administração Geral do Porto de Lisboa, onde aliás prestou excelentes serviços e se destacou pela dedicação, zelo e inteligência, vontade de cumprir, manifestando um criterioso procedimento no exercício do cargo, qualidades que lhe foram reconhecidas pela hierarquia em 3 louvores e 2 recompensas.
Ao Senhor Professor, no seu centésimo aniversário, desejo um dia feliz.

1 Moreira, Adriano com Gonçalves, Vitor (2014) “Este é o Tempo - Portugal, o Amor, a Política e Salazar”, Clube do Autor, S.A.
2 Todos os dados biográficos foram obtidos no processo individual, em arquivo no Comando Metropolitano de Lisboa. Foram-me disponibilizados para este efeito, após contato pessoal com o 2.º Comandante, Superintendente Luís Moreira, curiosamente também transmontano (Oleirinhos – Bragança) e também filho de um 1.º subchefe.

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