A opinião de ...

Caríssimo Pe. Domingos

Escrevo-te pois esta é a melhor maneira de nos fazermos compreender [1], é uma forma de pensar [2]. Escrever não é agradável, é um trabalho duro, mas se não escrevo sinto-me perdido [3].
Com o verão não vem só as férias, e o tempo quente, fustiga-nos um tempo pastoral mais intenso, reforçado pelo trabalho que a pandemia [Covid 19] adiou. Regressam em força, após dois anos de forçado confinamento, as novenas, as festas, os batizados, as comunhões e, os casamentos adiados. Ainda assim, quantos projetos não ficaram pelo caminho?
Lembras-te do pequenino “e-book” que Tomás Halik, através da Paulinas Editora, nos disponibilizou em formato digital, no mês de abril de 2020? “O sinal das Igrejas vazias. Para um cristianismo que volta a partir”. Na altura li e senti desconforto, hoje passados dois anos, reflito e sinto que a profecia se concretiza. “Igrejas vazias ou fechadas como se fossem um sinal e um desafio provenientes de Deus”. “Talvez”, continuava o sacerdote, “este tempo de edifícios eclesiais vazios traga simbolicamente à luz o vazio oculto das igrejas e o seu possível futuro, se não se fizer uma séria tentativa de mostrar ao mundo um rosto do Cristianismo completamente diferente?”[4]
Enquanto preparo celebrações, penso nesta análise e, nas constatações da crise, palavra que ressoou mais de 46 vezes da boca do Papa Francisco, na transmissão das boas-festas natalícias à Cúria Romana, a 21 de dezembro de 2020. Crise sanitária, económico-social, e até eclesial. Que mais se esperaria no final de um ano de pandemia arrasadora? [5] Não será esta crise, das igrejas semi-vazias um, entre muitos outros sinais que já se vinha pré anunciando, pelos mosteiros, seminários que se esvaziaram ou foram simplesmente encerrados, como dizia Halik? [6]
É esta a geração de cristãos chamados a travar a desertificação progressiva das Igrejas, não te parece? Que faremos?
Confrontamo-nos com a crise pandémica, a crise económica e agora a crise da guerra, que é um dos piores males que pode acontecer, dizia o Papa Francisco, em março do corrente ano, na mensagem de incentivo para as Jornadas Mundiais da Juventude que terão lugar em Lisboa, de 1 a 6 de agosto de 2023. Mesmo assim, o Pontífice aponta caminhos de esperança. “As crises superam-se juntos, não sós. E as crises põem-nos à prova para sairmos melhores. Iguais não se sai das crises: saímos melhores ou piores. E o desafio que se coloca hoje é para sairmos melhores! E o melhor de vocês é serem criativos: vocês são criativos, poetas! Façam essa poesia da criatividade a olhar para agosto de 2023”[7].
E, porque não seguir o mesmo conselho para travar a desertificação das igrejas?
Despeço-me na ousadia da criatividade, com as minhas melhores saudações. Recomendações do Pe. Hérmino.

Ps. Já que estás de férias pela capital dá um salto à Av. Luís Bivar, n.º 18. Pergunta, por favor, quando temos bispo?

[1] COUCTEAU, J; [2] - MORRISON, T; [3] - AUSTER, P; [4] – HALÍK, 2020; [5] – MATTEO, 2022; [6] – HALÍK, 2020; [7] - VATICAN NEWS, 7-3-2022.

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3890

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