A opinião de ...

O encantamento dos Conquistadores!...

Portugal sempre foi um país de conquistadores. Fases expansionistas da nossa história são o retrato disso mesmo.
Inerente à designação de conquistador esteve sempre o protagonismo heróico, arrojado, lutador, descobridor…transpositor de inúmeras adversidades, alcançando feitos que jamais alguém tinha conseguido!...
Só que, noutros tempos, o título de conquistador só era concedido a alguém por aquilo que, reconhecidamente, fizera no passado e não por aquilo que se propunha no futuro, muito menos na incerteza do alcance do objetivo da conquista.
Ora vem isto a propósito da nossa Seleção Nacional que, pela sexta vez, marca presença na fase final de um Mundial de Futebol.
Não omito o meu gosto pelo futebol, muito menos pela prática lúdica, bissemanal.
Porém, e já não é primeira vez que escrevo sobre este assunto e, certamente, não será a última. Entendo que a sociedade atual, está a valorizar em demasia o fenómeno da bola ao mais alto nível, atribuindo aos protagonistas um estatuto de “Deuses”, portanto, muito acima do que seria ética e socialmente razoável. No entanto, não são Deuses, nem príncipes, e de conquistadores, como os nossos antepassados, nada têm!..
Com a expressão deste pensamento, poderei estar a “remar contra a maré”, e não terei a concordância de muitos adeptos do desporto-rei e não só.
Isso, francamente, não me preocupa. O que me preocupa, mesmo, é todo o ambiente de endeusamento mediático, de encantamento de príncipes, e o movimento financeiro que “roda” à volta da bola, que sustenta os luxos e a soberba de uma minoria que gravita em torno do “negócio do futebol”, pensando e gastando à grande, mas representando um país de pedintes.
Por via dos benefícios de uma certa elite da bola, onde vaidosos, analfabetos e inúteis se pavoneiam e aproveitam, ocupando lugares de destaque em lautos banquetes e luxuosas festas privadas, finta-se o fisco e fazem-se investimentos gigantescos, que mais não servem do que para o beneficio refastelado de poucos, potenciando a ausência de bens essenciais e estruturalmente sociais de muitos.
E se os exemplos em Portugal foram e são mais que evidentes, no Brasil gritantes e prementes!...
Não serão, pois, desprovidas de razão as manifestações que têm sido organizadas no país anfitrião, contra a organização do Campeonato do Mundo de Futebol. Sou, evidentemente, é certo, contra as manifestações violentas e que geram violência.
Contudo, não posso deixar de estar solidário com os manifestantes que protestam contra as avultadas somas de dinheiro gastas na (re) construção de uma dúzia de estádios, para a realização deste evento, quando naquele grande país da América latina se fazem notar grandes carências ao nível social, de infraestruturas básicas, como escolas públicas, redes viárias, hospitais, cuidados de saúde, habitação, etc.
Quanto à nossa selecção, não será, com toda a certeza, por falta de apoio dos portugueses aos ditos “conquistadores” que não seremos Campeões do Mundo. Nem, tão pouco, pela falta de meios financeiros e de luxos, que a presença no Brasil acarreta, nem, muito menos, pelo mediatismo que lhe é conferido.
Muito exagerado, digo eu.
Por isso e porque, em termos relativos, somos uma das seleções mais caras do mundo, avaliada em 310 Milhões de Euros, entendo que tudo o que para baixo de um lugar no pódio for, diminuirá muito o prestígio, o valor e o espírito conquistador!...
Todavia, é importante é que o Mundial seja, na medida do possível, uma autêntica festa do futebol e que o desportivismo seja enaltecido, num contexto de convivência pacífica e solidária, embora seja de opinião de que, ao nível prático da solidariedade, pouco mais fica do que a formalidade na intenção!...
 

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