A opinião de ...

Do alto dos oitenta e tal anos A injustiça

É voz corrente que grande parte dos prisioneiros consideram que foram condenados sem motivo, para que lhes tenha sido subtraída a liberdade. E lá terão as suas razões.
Perante esta constatação, o que é que levará os atores a considerarem-se inocentes? Provavelmente porque neles o conceito de justiça diverge do da pessoa que proferiu a condenação.
O que leva um indivíduo, por exemplo, a roubar, a insultar, a protestar… e, em casos extremos, a matar? Será que o impulso de praticar tais atos é causado apenas pela necessidade que sente em aquietar um (para si legítimo) desejo de vingança por falta de justiça para com ele?
Será que quem rouba precisa de roubar? É que praticar o roubo por si só não abona em nada o seu autor. Há muitos anos, na homilia da missa dominical, o oficiante dizia do altar, que, para satisfazer a fome, e não encontrado outros recursos, não é pecado roubar.
Em cada um dos demais casos há centenas de motivos para que alguém se sinta impulsionado a resolver tudo à sua maneira, dada a subjetividade que possa afetar cada um dos respetivos conceitos. Certamente será nesse motivo que a revolta do condenado se veja alicerçada: perante um insulto, logo a impulsividade o leva a replicar, a menos que uma sua imprevista atitude repressiva o consiga acalmar; tal como o protesto tido como condenável acontece pela insatisfação duma qualquer exigência que parece justa a quem protesta. Já o ato de matar (sempre reprovável), nasce da revolta, nalguns casos exigindo violência que, porque impensada nos seus resultados, geralmente vai manifestar-se descontrolada.
Salvo melhor opinião, uma das situações mais frequentes de injustiça acontece no trabalho. Há o trabalhador que, levando a sua profissão a sério, não deixa de cumprir as obrigações que lhe são exigidas; e há o trabalhador descuidado que deixa para o dia seguinte o trabalho que, de momento, poderia concluir.
Algumas vezes estas duas situações são vistas de forma diferente por quem deve classificar. Ou por antipatia num caso ou por empatia noutro, a decisão pode ser a pior para quem cumpre as suas obrigações, e naturalmente a melhor para quem desleixa o trabalho que lhe compete realizar.
Ora uma situação destas pode levar à revolta do bom trabalhador, podendo originar a que este considere que não vale a pena ser tão dedicado ao trabalho e, por isso, assuma para com ele uma posição de desinteresse, aliando-se ao colega cuja apreciação vai constituir um incentivo para que assim continue a proceder. Perdem-se assim dois trabalhadores – facto que, para qualquer instituição, se traduz num insucesso.
Outra situação propensa à injustiça tem campo aberto no ensino. O ranking das escolas, por exemplo, aparentemente contempla apenas os resultados finais do ensino do ano de cada aluno, sem levar em conta que se trata de ensino particular ou de ensino público. Naquele, em que, normalmente, a maioria dos alunos pertence a uma classe média ou acima da média (cujas turmas tendem a ser consideradas homogéneas), e com os recursos necessários para que aos seus educandos seja proporcionado um ensino de categoria superior; ou neste, longe das condições atrás mencionadas, que acolhem alunos de variados estratos sociais, grande parte integrados em bairros degradados, onde tudo falta, (inseridos em turmas na maior parte heterogéneas), e sem recursos materiais para fazer face às exigências dum ensino minimamente aceitável, e nas quais os professores se veem obrigados a adotar os mais variados métodos para captar a atenção dos alunos.
Isto sem falar no grande e essencial campo da educação, a qual, caminhando paralelamente com o ensino, deve integrar a formação do aluno.
Terminando, cabe-me afirmar que, para desenvolver o conceito de injustiça, aceito que, a par de investigar, tenhamos de compulsar os milhares e milhares de estudos – o que, neste caso, visivelmente se torna inimaginável proceder.

Edição
4016

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