A opinião de ...

O valor do voto

É tempo de rescaldo. Da vitória de quem não ganhou e da derrota de quem não perdeu. Porque para lá dos valores frios e inapeláveis dos números há sempre e inevitavelmente a interpretação dos mesmos. E se os números não podem ser alterados já o significado e, sobretudo, as consequências têm várias e diversas leituras. Mesmo que baseadas nos mesmos e inabaláveis valores.
No início da edição especial da SIC Rui Oliveira e Costa apresentando as projeções da Eurosondagem distribuía sem hesitação 20 dos 21 deputados europeus dizendo que o 21.º poderia ir para um de três, mas que ele não sabia qual. E, contudo, segundo um fácil critério de justiça esse lugar pertence a... ninguém. Ou, melhor, a nenhum dos candidatos.
Sobre a abstenção há muitas e variadas explicações e todas elas terão subjacente alguma verdade e nenhuma delas há-de justificá-la inequivocamente. Mas os votos nulos e brancos só podem ter uma explicação: alguém que não fica em casa, que se for à praia ou a passear tem o cuidado e a preocupação de antes disso se dirigir a uma secção de voto para dobrar o boletim em branco, ou colocar um qualquer sinal que lhe anule a validade para qualquer força política em disputa, não o faz por comodidade, alheamento e muito menos por estar morto (principais razões apontadas para a abstenção). Quem vai votar e decide fazê-lo em branco ou anular o respetivo subscrito só pode querer dizer que pretende participar activa e democraticamente mas não encontra em nenhum dos candidatos quem lhe possa merecer a confiança mínima para lhe endoçar o suporte político exigido para eleição em Democracia.
Se é assim e se o resultado das eleições deve espelhar a vontade de todos os eleitores, a vontade de perto de 250.000 eleitores que votaram branco ou nulo só pode ser devidamente representada por... nenhum dos candidatos a um lugar em Bruxelas e Estrasburgo!
Em vez disso os “donos” da democracia apressam-se a preencher esse lugar, indevidamente, com um qualquer correlegionário dos lideres clarividentes que se apressam a clamar que é necessário refletir nos resultados e deles retirar “as devidas ilações”!
E deleitam-se a ouvirem-se a eles próprios, certos da justeza das suas análises sobre todo o tipo de votos que encontram para justificar as suas vitórias e insucessos. Olham para a palete política e desatam a comentar o voto de rejeição, de esperança, de protesto, de confiança e de alerta. Sem esquecer o voto útil e o  voto perdido, definitivamente ou, quase provavelmente, recuperável. Nestas eleições acresceram os votos seguros e os votos perigosos!
Ora um voto não pode ser bom e seguro, quando votado em mim, mau e desinformado quando entregue ao meu adversário. Muito menos perigoso ou demagógico quando beneficiando qualquer extremo.
Um voto é um voto e representa sempre e apenas a vontade de um eleitor. Não têm cor, peso ou valor. Vale exatamente um voto. Um e só um. Nada mais. Nada menos.

Edição
3475

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