A opinião de ...

Desencanto, irresponsabilidade e demagogia

 Sobre estas eleições, que foram não-eleições, o melhor seria não dizer nada.
Porém, há que dizer algo que seja construtivo. Os comentários que hoje tenho visto partem do princípio de que estas eleições foram válidas do ponto de vista democrático. Porém, deste ponto de vista, não o foram porque só votaram 3,282 milhões de 9,680 milhões de eleitores. Mas, do ponto de vista legal, dado que vivemos num direito eleitoral de usurpação, foram legais porque a lei eleitoral existente as torna legais, indevidamente.
Estas eleições não foram verdadeiramente democráticas porque não votaram pelo menos 50% mais um dos eleitores e porque não resultaram de uma segunda volta se, na primeira, aquele critério não tivesse sido cumprido.
Por outro lado, a nossa lei eleitoral instituiu um direito de usurpação e de abuso de poder. De usurpação porque ignora o peso dos votos em branco referindo a percentagem dos votos obtidos pelos partidos concorrentes à totalidade dos mandatos. Assim, por exemplo, os votos no PS valeram não os 31,5% obtidos mas sim 33,5%, o que é uma usurpação legalizada. Conclui-se então que votar em branco é desperdiçar o voto.
Aquela lei é ainda um direito de abuso de poder porque, não havendo a definição de um número mínimo obrigatório de votantes, podemos ter um parlamento eleito com apenas 1% de votantes, impondo-se a vontade dos assim eleitos a todos os que não votaram.
Muito se disse destas eleições. Em verdade, parece-me que o que devemos ler nelas é desencanto, irresponsabilidade social e demagogia.
Desencanto porque, muito provavelmente, as pessoas não foram votar porque estão desiludidas com o sistema político e com os políticos.
A sério? Mas, então, elas não passam noites em claro para obterem um bilhete para ir ver o «Rock in Rio» ou o Benfica? Atraiçoam o sistema que lhes deu o bem-estar, que lhes acariciou o estômago mas se esqueceu de cultivar a alma. É aqui que entra a irresponsabilidade social.
Finalmente, a demagogia. Quem tivesse visto as promessas de Seguro e as catilinárias de Rangel contra o PS facilmente concluiria que estávamos perante dois demagogos cuja aproximação à verdade era pura coincidência. No final, foi mostrado um cartão vermelho a ambos, por acção e por omissão.
Ganharam os extremismos: os de direita e os de esquerda restando vermos esclarecido o sentido dos 7% obtidos por Marinho Pinto, conseguidos à custa do Bloco de Esquerda e do PS.
Quanto ao futuro, há que constituir um único caderno eleitoral e instalar um terminal de computador em cada mesa de voto para permitir aos cidadãos, através de um único click do Presidente da Mesa, votarem em qualquer mesa próxima do local em que se encontrem. É mais fácil que a via verde. É só querer. Será que PS e PSD querem?
Quanto ao mais, nada se pode concluir destas eleições. Talvez que Seguro está muito distante da vitória nas legislativas e, por isso, muito inSeguro no PS.
 

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