A opinião de ...

Defender a democracia, garantir a liberdade

A invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de Fevereiro de 2022 tornou-se no maior teste à sobrevivência da democracia e da liberdade no Mundo Ocidental, expressão esta que designa as sociedades e os estados que estão organizados e vivem segundo os princípios e valores do liberalismo democrático ou democracia liberal e da social-democracia.
Passados oito meses sobre o início da invasão, os países ocidentais e suas organizações transnacionais, políticas (ONU, EU, Parlamento Europeu e Conselho da Europa) e militares (NATO), prestaram e prestam apoio político, social e militar à Ucrânia, de modo a este país equilibrar as acções de guerra mas as sociedades civis e políticas dos mesmos países começam a vacilar face aos problemas económicos e financeiros que a guerra tem gerado, designadamente no agravamento do custo e condições de vida através do aumento dos custos da energia, dos juros, da inflação e das despesas militares.
Este apoio político, social e militar foi e é essencial para garantir a autonomia e a autodeterminação da Ucrânia em igualdade com qualquer outro povo que se organize democraticamente. Aliás, a essência cívica e política da democracia é a autonomia e a autodeterminação dos modos de viver e de organização política, desde que baseados no igual valor da pessoa humana face ao voto, no sufrágio universal e em eleições livres.
Este apoio tem merecido a unanimidade dos líderes do Mundo Ocidental nas decisões dos seus areópagos e nas declarações individuais que têm proferido. Mesmo os presidentes da Hungria e da Polónia e a recém-eleita Giorgia Meloni, em Itália, moderaram os seus ataques à democracia e à UE. Mas a abstenção da Bélgica na última reunião do Conselho da Europa lançou o alarme sobre as dificuldades de manter as opiniões públicas coesas no apoio às causas da democracia e da Ucrânia e ainda na solidariedade social para com o povo ucraniano.
De facto, oito meses de guerra constituem já um teste à resistência da opinião pública e compete aos líderes ocidentais apelar para a defesa dos valores democráticos essenciais e para a aceitação dos sacrifícios económicos que nos estão a ser exigidos, mesmo não sabendo qual vai ser o desfecho da guerra. A derrota do Ocidente significará a vitória dos autoritarismos, dos nacionalismos populistas e a instabilidade na Europa, e a derrota da Rússia significará a vitória dos valores democráticos.
Muitos barganham que a ajuda à Ucrânia intencione em primeiro lugar a defesa da democracia argumentando que se procura sobretudo a supremacia estratégica dos Estados Unidos face à Rússia e a expansão dos comércios estadunidense e alemão naquela zona geográfica. Porém, mesmo que esta argumentação corresponda parcialmente à verdade, a sua concretização dependerá da garantia da autodeterminação por parte da Ucrânia.
A democracia e a autodeterminação ucranianas e a defesa da Europa face ao autoritarismo e expansionismo russos são razões bastantes para a busca da supremacia estratégica independentemente de eventuais interesses económicos envolvidos, que não é fácil descortinar pois que os EUA têm problemas graves com a China e com a Coreia do Norte que dispensariam bem e tornam inoportuna e problemática a intervenção na Ucrânia.

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