A opinião de ...

Dar sentido à morte de Luís Giovani

Luís Giovani dos Santos Rodrigues, Cabo-Verdeano de 21 anos a estudar no Instituto Politécnico de Bragança não pode ter morrido em vão. Temos de dar sentido à sua morte, injusta e violenta.
Na cultura do Estado Democrático, de matriz cultural cristã, aproveitamos as injustiças para tornar a sociedade mais justa e, em casos como este, mais tolerante e mais educadora dos intolerantes. Ao mesmo tempo, procuramos fazer justiça com as leis do Estado Democrático Legítimo. Essa justiça é necessária para evitar os sentimentos de revolta e impunidade.
As marchas e vigílias organizadas no dia 11, à tarde, em várias cidades do nosso país demonstraram bem a vontade de integração e convivência pacífica das comunidades cabo-verdeanas em Portugal com a população portuguesa. E demonstraram também que, ao contrário da ideia expressa em dois artigos no jornal Público por Nina Manso (https://www.publico.pt/2020/01/10/p3/cronica/pais-giovani-rodrigues-fal…) e por Luísa Semedo (https://www.publico.pt/2020/01/11/sociedade/opiniao/justica-giovani-med…) não há nem racismo nem intolerância étnica contra essas comunidades por parte da população portuguesa.
De resto, o próprio conceito de raça parece hoje inadequado para exprimir as diferenças entre os seres humanos dos vários continentes do planeta Terra já que, segundo a maior parte dos autores e estudos, as diferenças biológicas entre os seres humanos originários de diferentes continentes e regiões não se quantificarão em mais de 0,1%, caindo por terra o mito da superioridade de uns sobre outros com base nesta ordem de razões (biológicas e de cor da pele).
Também a psicologia social nos explicou e demonstrou que não se podem estabelecer relações de superioridade cultural entre os povos de diferentes etnias pois os processos de formação e transformação cultural são homólogos (iguais) e isomórficos (com o mesmo processamento) estando os povos apenas em estádio mais ou menos avançado conforme o grau de dificuldades que tiveram de resolver na sua relação com a natureza e com a sociedade em que foram educados. Isto significará que não há culturas mais valiosas do que outras, apenas que umas já resolveram antes as dificuldades que outras ainda virão a encontrar.
Aquelas-umas estão já num estádio de desenvolvimento cultural mais avançado do que estas-outras, o que não lhes garante, porém, qualquer superioridade moral. Quando muito, de maior quociente intelectual, o dito nível de inteligência adquirido, que evolui com a complexidade social e da educação da população.
Nestes termos, carece de sentido qualquer animosidade entre povos e culturas a não ser que não aceitem as regras da sociedade democraticamente instituída. Só que, para os que não aceitem os nossos princípios-valores democráticos e republicanos, a nossa tolerância deve exprimir-se na oportunidade da reeducação e na justiça do nosso sistema judicial e repressivo. Sem hesitações, sob pena de o «ladrão» nos assaltar a casa e nos matar lá dentro

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