A opinião de ...

Notas soltas do dia seguinte às eleições

Mais uma vez, à semelhança do que tem acontecido na maioria das eleições do pós 25 de abril, a grande mensagem que ressaltava à vista, à medida que iam sendo divulgados os resultados da contagem dos votos apurados nas eleições legislativas do passado dia dez de março, salvo honrosas exceções, era a incompreensível e injustificada curiosidade doentia de saber se foram “os nossos” que ganharam e por quantos ganharam, bem como por quanto perderam “os outros”, como se ganhar umas eleições legislativas fosse exatamente o mesmo que ganhar as eleições para a Direção dum clube de bairro, Gestão dum condomínio, Presidente da associação dos amigos dos pardais da torre da igreja ou Organizador dum torneio de sueca para angariar fundos para pintar a igreja, jogado por equipas de quatro amigos à sombra duma ramada numa tarde quente de Verão.
É por estas e por outras que este país, que ainda é o nosso, a continuar tudo assim, está condenado a nunca mais passar da cepa torta e, bem pior ainda, obrigado a conviver e sustentar a plêiade incontável de deslumbrados, míopes, oportunistas e heróis liliputianos que vegetam e se orientam (quase sempre bem), em todas as atividades da vida do país, com especial e manifesta apetência pelos corredores e gabinetes do poder, onde tudo se decide, tudo se torna mais fácil, dá estatuto e, obviamente também, fama e proveito, dos quais, em boa verdade, seja para o que for, nada de bom há a esperar deles, muito menos ainda na situação complexa em que o país se encontra, a que não foi alheio o longo período de tempo desperdiçado entre a queda do anterior governo e a problemática entrada em funções do que lhe suceder.
Aqui chegados, tendo em conta os resultados das eleições e as declarações nada e animadoras dos lideres partidários, para evitar o risco duma posterior desilusão, é da mais elementar prudência manter os pés bem assentes na terra e não sonhar muito alto, porque os próximos tempos, num pequeno país como o nosso, onde quase nada funciona e o pouco que ainda funciona, raramente funciona bem, que se colocou numa dependência quase total da importação da grande maioria dos bens de consumo, que deixou as suas terras e o seu aparelho produtivo ao abandono para importar, sabe Deus o quê, com que qualidade e a que preço, o que em tempos produzia em quantidade, com qualidade e a preços ao alcance da grande maioria das pessoas, e estar sempre de pés atrás e desconfiar das promessas, muitas delas sem pés nem cabeça, feitas nas campanhas eleitorais por muitos candidatos que, de antemão, já sabem que nunca as poderão cumprir nem serão chamados a cumpri-las.

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