A opinião de ...

Lago Sanabria

Tão perto de Bragança, tão distante durante décadas, tão apreciado na estação calmosa. Reina grave e acesa discussão nas estâncias de poder espanholas porque o lago estará a ser contaminado pela má acção das depuradoras, também devido às maldades provocadas pelo homem. Os senhores inimigos da barragem de Veiguinha, que eu saiba, ainda não desataram o nó do lenço de protestos relativamente às denúncias da Estação Biológica Internacional, que além de serem contestadas pelos organismos oficiais recebem insinuações de serem feitas devido a interesses financeiros. É que a Estação detém uma concessão de enoturismo no lago, dai e na óptica dos governos – nacional e regional – estar-se ante ruído resultante de apetite lucrativo, de dinheiro. O caso politizou-se ao mais alto nível, esgrimem-se argumentos contraditórios, a coisa irá durar pois a querela inquinou-se desde há largo tempo. A leitura das acusações recíprocas, a proximidade territorial, acrescentando o argumentário utilizado pela Estação, avivou-me o caso a barragem. Sendo contra a conspurcação do ambiente, procurando cumprir as minhas obrigações nesse e noutros domínios, não consigo entender os clamores e acções contra a barragem. Se defendo a pureza das águas do lago onde há um alqueire de anos refresquei o corpo, mais defendo o abastecimento de água a todos e durante todo o ano. Ora, só os distraídos e surdos desconhecem os flagelos vividos no concelho de Bragança devido à falta do fundamental líquido, não sendo aceitável persistir-se no viver a seco quando a água corre ao alcance de todos. Ser ou não ser eis a questão dizia o trágico de Shakespeare, a tragédia reside na exasperante míngua de água, todos os anos no Verão e, na altura de principiar a obra solucionadora do problema, a vesguice fundamentalista, estribada em supostas boas intenções tenta, mais uma vez, entravar a sua construção. Os contestatários têm todo o direito a contestar, no entanto, não têm o direito de privarem a maioria de viverem com melhor qualidade de vida. Se a carência de água os afectasse seriamente não tardariam a mudar de posição, amantes da natureza na posição de fruidores, sem nunca terem trabalhado a terra de ver a ver, sem nunca terem acarretado cântaros de água, tentam legitimações ortodoxas, esquecendo a sabedoria heterodoxa empírica dos aldeãos. Por assim ser vem ao de cima o deixa andar, solta-se o desinteresse cujos resultados mais visíveis são os funestos e às vezes mortais fogos.

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3464

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