A opinião de ...

E a europeias disseram…

 
As europeias disseram que o povo estava farto de enganos, promessas incumpridas, amiguismo, promoção da incompetência, castigo do mérito desalinhado partidariamente. O povo na sua esmagadora maioria ignorou o acto eleitoral, os votantes puniram sem dó, nem piedade os partidos do centrão, num claro aviso: ou mudam de processos ou então vamos fragmentá-los reduzindo-os a estilhas, numa lógica de quanto pior melhor, na perspectiva de surgir algo melhor, inimigo do arranjismo, relapso a golpes baixos, empenhado na restituição do respeito e consideração à classe política. Só os distraídos, tontos e beneficiários do actual sistema não entendem a clara mensagem carregada de avisos. O vivaz António Costa compreendeu-a de imediato, ciente do perigo avançou, arrisco escrever, vai ganhar. Na corte laranja reina a inércia confortada pela magreza do resultado socialista, acreditando na possibilidade de lhe sair a sorte grande da lotaria política, os cortesãos fazem vénias uns aos outros, os vassalos nas províncias promovem amigos em detrimento de pessoas capazes, competentes e de elevado mérito, que tiveram o azar de não apoiarem o primeiro-ministro. Em Bragança existe um exemplo digno de clamoroso bradar aos céus, no entanto, quem podia reparar a injustiça colocou cera nos ouvidos, em Lisboa os representantes no Parlamento preocupam-se com outras coisas, esquecendo quão efémera é a glória e que há mais marés que marinheiros. Há semanas referi o caso a um eurodeputado dizendo-lhe que o caciquismo é feroz inimigo da carta de princípios de partidos crentes nos benefícios da isenção. Ora, neste estado de exaltação do vesguismo caso mude a actuação do Partido Socialista, ganhe chispa e largue velhas práticas potencia clamorosa derrota laranja, se não conhecer melhoras e tudo continuar dentro do ronceiro ritmo, chegará a aludida fragmentação trazendo consequências imprevisíveis nesta altura, de qualquer modo nunca de matriz qualificadora do regime. Não penso estar a exagerar, a história regista a forma como nações foram engolidas na voragem do populismo originador de tragédias causadoras de milhões de mortos. O fenómeno da mistura popular descamisada encarnada por Marinho Pinto é uma caixa de Pandora repleta de incógnitas relativamente ao futuro do actual sistema partidário. Acreditem. Os instalados não apreciam este género de preocupações, percebo-os, a crença na democracia leva-me a mandar para as urtigas o politicamente correcto.
 

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3476

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