Bragança

População preocupada com exploração mineira a céu aberto a dois quilómetros da fronteira

Publicado por Glória Lopes em Qui, 2020-08-20 11:18

Está em consulta pública até 21 de agosto, o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do projeto de exploração de uma mina de volfrâmio e estanho a céu aberto, com lavagem de inertes, em Calabor, Pedralba de la Pradería, a pouco mais de dois quilómetros da fronteira portuguesa, que está a preocupar os habitantes do lado português.

Se do lado espanhol a intenção de avançar com a mina tem sido contestada pelos ambientalistas por estar projetada para uma zona de alto valor ecológico na Rede Natura 2000 e dentro da Zona Especial de Conservação da Serra da Culebra, pondo em causa o habitat de algumas espécies como o lobo Ibérico, do lado português tem passado quase despercebida. Ainda assim, nas populações das aldeias mais próximas, como Rio de Onor e Aveleda, existe receio do que possa vir a acontecer pois a população enfrenta ainda as consequências dos impactos das minas do Portelo de onde foram arrastados inertes em grande quantidade, em 2009, criando problemas de assoreamento no rio Pepim (Aveleda). Naquela altura após um período prolongado de forte pluviosidade ocorreu o colapso das escombreiras das minas provocando uma alteração profunda dos cursos de água nas imediações com a entrada massiva de sedimentos no meio aquático, afetando as ribeiras de Portelo e de Aveleda, afluentes da margem esquerda do rio Sabor. As gentes destas localidades temem agora impactos negativos da mina espanhola nos cursos de água da zonam na fauna e flora.

O presidente da União das Freguesias de Aveleda e Rio de Onor, Mário Gomes, sabe que a consulta pública do EIA está na sua fase final, mas admite que não tem conhecimentos suficientes para analisar com rigor o documento “que é muito técnico”.

Uma das primeiras consequências será ao nível da estrada ZA-925, que liga Puebla de Sanábria, à fronteira portuguesa, cujo traçado terá de ser desviado em cerca de um quilómetro. Prevê-se ainda um aumento considerável do tráfego nesta zona, sobretudo de veículos pesados para fazer o transporte do minério.

O estudo reconhece o aumento do tráfego: “A tudo isto deve ser adicionado um aumento nos níveis de tráfego de veículos e máquinas nas proximidades, o que gera desconforto, ruído e um aumento na poluição do ar e a possível contaminação da água em face de potenciais derrames de maquinaria, bacias de retenção e outros elementos associados à exploração”.

O EIA refere ainda que “os efeitos adversos são acentuados na fase de exploração. Os primeiros impactos estariam relacionados com a abertura e acondicionamento de pistas, instalação de áreas auxiliares, execução da estrada ZA-925 e LAAT 45 kV, eliminação da cobertura vegetal na área a ser explorada e os primeiros horizontes edáficos, construção de valas e bacias de retenção, etc. Isso teria um impacto direto na ocupação e uso que a fauna faz do espaço, bem como em outros fatores ambientais, como a alteração da hidrologia da superfície, o aparecimento de fenómenos erosivos e perda edáfica, a perda de qualidade paisagística, etc”.

A área em que o projeto está situado, localiza-se na Bacia do Rio Douro. O curso fluvial mais importante da região é o rio Tera, embora esteja localizado a mais de 10 km da área de estudo, com a barragem (Barragem de Cernadilla) nas proximidades de Puebla de Sanabria. Não há impactos previsíveis sobre este rio, dado que está na encosta oposta da Sierra de laCulebra. O EIA refere várias massas de água transfronteiriças na zona, como os rios Sabor e Onor, bem como o rio Calabor da nascente até à fronteira.

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