Liberdade e igualdade
Lembro a obra Utopia (Guimarães Editores, 2005, pág. 63) de Thomas Morus (1478-1535), filósofo, pensador, diplomata, homem de leis, chanceler do Reino Unido, católico, santificado por Pio XI. Dado o seu elevado sentido ético-moral-cristão (católico), opôs-se tenazmente ao divórcio de Henrique VIII (que se autoproclamou o representante de Deus na Terra e que mandou executar, por decapitação, o filósofo, por contrariá-lo). Leiam este excerto de há mais de cinco séculos: «…A felicidade pública era [recordava Platão] a aplicação do princípio da igualdade. Ora, a igualdade é impossível num Estado (referia-se aos outros estados) onde a posse [de bens] é solitária e absoluta, pois cada um aí se arroga de diversos títulos e direitos para chamar a si tudo quanto pode…e a riqueza nacional acaba por cair nas mãos de alguns, ficando os outros na indigência e na pobreza». Valeria a pena ler esta obra porque atual.
O que vemos à nossa volta, mais de cinco séculos volvidos?
1.º Existe uma ‘revolução individualista’, onde impera a contracultura, a desagregação, a mentira, o ódio, o nepotismo, a falta de ética, a multiplicidade de notícias falsas. Sobre o que refletir?
2.º Muitos cidadãos não se sentem motivados para intervir na vida pública, atribuindo pouca ou nenhuma importância ao papel da política na sua vida, afirmando que “a política não lhe interessa”. Quais as razões?
3.º Temos o direito e a obrigação de eleger os nossos governantes e de nos opormos, se for o caso, ao poder instalado, uma vez que os direitos do homem têm a sua tradução institucional e constitucional. Inalienável?
4.º Para o exercício de uma livre escolha, é difícil compreender e aceitar que alguém, na sua escrita de jornalista ou comentador na mídia – sobretudo em período eleitoral – sugira este ou aquele campo ideológico e partidário. Não é correto, penso. Igualmente, para que o exercício de livre escolha seja efetivo e consciente, não faz sentido serem os cidadãos invadidos pela mentira, pela retórica da ‘simplicidade’ que se destina a facilitar o uso do menor esforço possível. A aposta no superficial, no imediato, no que entre facilmente na nossa mente é a arma sedutora, dirigida a quem não acredita no status quo. Por ignorância?
5.º Os jovens parece não se reverem nas mensagens que os partidos transmitem. Por isso, os dirigentes partidários, os governantes, os deputados, os autarcas, os professores e outros profissionais devem assumir um papel importante na inovação, na transparência e ética na prática de atos e medidas concretas neste mundo de pós-modernidade, cuja característica essencial é o surgimento do individualismo e do hedonismo. Têm eles razão?
6.º É preciso aprofundar a democracia, ou como dizia Pacheco Pereira em Dezembro de 2016 no jornal Público: «As políticas em democracia são, pela sua própria natureza, plurais, e resultam de uma escolha livre e não da imposição…». Atualíssimo?
7.º Como tal, somos todos responsáveis; não há “eles”. De outro modo, será a falência dos valores e referências ético-morais de uma civilização que deveria irmanar, unir e estabelecer pontes, mas esclarecendo. Estamos no mesmo barc