A opinião de ...

É possível uma mesma ética universal?

Retenho a seguinte notícia: «Tenho guardado todas as garrafas de vinho da eucaristia, vamos preparar cocktails molotov aqui». Os autores da notícia continuam: «Para este padre, a resistência é lei divina na igreja do padre Sebastian, para quem rezar, em tempos de guerra, é importante, mas não suficiente. Parte do dia do padre Sebastian é hoje passado na rua a receber quem foge da invasão que avança sobre o seu país. Não encontra conflitos entre a sua fé e a necessidade de pegar numa arma para defender a cidade, vai organizar uma resistência a partir da igreja do Santo Mártir Clement Sheptytsky, esperando conseguir proteger o museu que foi literalmente buscar ao lixo (Expresso Internacional, 28 de fevereiro de 2022)».
O que me leva a trazer a terreiro esta afirmação, caros leitores? Pois bem: é a forma de enfrentar a crueza de uma guerra, tantas e tantas vezes utilizada para exercer o poder, militar ou económico, sempre à custa das populações, dos mais desprotegidos. Não deixo de lembrar que noutros momentos recentes da História Mundial, aconteceram invasões e lutas sem sentido, fomentadas por interesses que conflituam com o direito internacional e com o desejo dos povos.
Apenas breves notas.
Primeira – proceder ao debate ético com matriz internacional, mundial, significa a defesa de valores que se completam e respeitam mutuamente, ainda que inspirados em tradições culturais e religiosas distintas: o respeito pela dignidade da pessoa humana, intimamente ligado à tradição kantiana, como fruto do reconhecimento do outro; o princípio da beneficência, como obrigação de fazer o bem possível; o princípio da justiça que assenta na distribuição justa dos bens de uma sociedade democrática; o dever de solidariedade que consagra a complementaridade e a entreajuda. Então, o debate ético, deve ser pluralista na forma e na aceitação das referências de cada grupo ou nação.
Segunda – a Declaração universal dos deveres humanos, de 2018 (ONU) como continuação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, estabelece, foi o resultado de amplas discussões, segundo a qual são consagradas diversas obrigações entre os homens e entre os povos. No preâmbulo afirma-se: «o reconhecimento da dignidade e dos direitos iguais e inalienáveis de todos, o que implica obrigações e deveres; a insistência exclusiva nos direitos acarreta conflitos, divisões e litígios intermináveis; o desrespeito pelos deveres humanos pode levar à ilegalidade e ao caos; os problemas globais exigem soluções globais, que só podem ser alcançadas mediante ideias, valores e normas respeitados por todas as culturas e sociedades; todos devemos promover ativamente uma ordem social melhor».
Terceira – ora, a presente situação causada pela invasão da Rússia à Ucrânia fere, desde logo, os princípios e os deveres que os próprios homens produziram, na tentativa de construir um mundo melhor, respeitando as diferenças étnicas, culturais e religiosas.
Quarta – Cada um de nós pode e deve refletir, pois parece que não estamos a conseguir alcançar a paz global e regional e o equilíbrio da Natureza da qual faz parte o Homem.

Edição
3874

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