Falando de Incêndios
Parece que tinha de acontecer. E mesmo parecendo que tinha de acontecer, de facto, aconteceu. Os incêndios, neste país, amplamente divulgados e penosamente suportados, atraíram telespetadores, radio-ouvintes e leitores. Provocaram mortos e feridos, lamentações, perdas, movimentações, exclamações, desânimo, discussões, e comentários, durante mais do que o fim-de-semana recentemente passado. Hoje, 22 de setembro de 2024, ainda fere a nossa vista tudo quanto nos mostraram, tudo quanto lemos, bem como os nossos ouvidos ainda sofrem por tudo quanto ouvimos.
Principalmente a televisão, foi-nos mostrando todo o horror de uma grande tragédia que teve como fundo alterosas chamas alimentadas pelo bom combustível que se ia consumindo, parecendo que não mais acabaria, e pelo vento que não se cansava de espalhar e provocar mais chamas.
Contra toda esta enorme tragédia que feriu gravemente a Natureza, lutou o corpo de bombeiros que, num inaudito esforço e com muito sacrifício, acabou por vencê-la. Também muitos proprietários de casas, terrenos, indústrias, culturas e explorações se juntaram a este esforço, revelando não só imensa coragem como também um grande sentido de solidariedade.
Porém, não devemos deixar de admirar a coragem e a aparente serenidade de alguns dos que tudo perderam. Viu-se que, enquanto nos rostos de muitos, se estampava um indesejado conformismo, também outros rostos revelaram a coragem de começar de novo, na esperança de, um dia, tudo voltar a ser como foi – revelação que parecia contribuir para alcançar um futuro calmo e digno.
*
Procurando saber-se quem, nalguns casos, procedeu como incendiário (que, por certo, não consegue sequer imaginar os danos que causa), o que tem acontecido? Alguém considerado como alegadamente responsável por tamanho crime, depois de interrogado, muitas vezes é solto por falta de provas e de testemunhas, embora sujeito a apresentações – o que, porventura, nos intervalos destas, poderá repetir o mesmo alegado crime.
Há casos em que o presumível incendiário é tido como inimputável, outro como psicopata, outro como incendiário compulsivo … Segundo voz corrente, há aqueles que inadvertidamente, (caso das queimadas), provocam os incêndios; e também, segundo voz corrente, aqueles que atuam por vingança, por retaliação, ou por má convivência.
O resultado destes mais que variados atos é que, no final, é sempre o mesmo. E quem vai compensar as perdas de vida, pagar os prejuízos, e repor tudo o que, nos incêndios, é destruído? De qualquer forma, é sabido que todo aquele que deliberadamente provoca um incêndio se encontra numa situação de liberdade; e inversamente, só quem se encontra detido não pode ser acusado de tal.
Parece haver uma tendência generalizada para que a sociedade seja constituída por pessoas inteligentes, conscientes e saudáveis, de forma a que tal sociedade viva em paz e em abundância, enquanto às pessoas indesejáveis deverá ser proibida a existência, ou lhes seja aplicado o confinamento forçado, em afastados e determinados lugares, de forma a não perturbarem.
Nesta linha de pensamento, todo aquele que se torna pessoa perturbadora e, por tal, indesejável, precisa de ser afastado. E então, impõe-se esta pergunta: será que, neste país, a pena máxima de 25 anos, é suficiente para a regeneração dum condenado, e, ao mesmo tempo, para que esse condenado redima o mal que fez?