A opinião de ...

Do alto dos oitenta e tal anos Está a chegar o Natal

Anda no ar uma grande alegria. Decerto que, por isso, se aproxima um grande evento!
Esse grande evento mobiliza muitos milhões de crianças e adultos em todo o mundo,
agita nações, mobiliza reis, príncipes, presidentes, ministros, ricos e pobres. Toda a superfície da Terra se transforma ao som de canções e brilhos de luzes de múltiplas cores: nas árvores, nas fachadas de casas, nos mais representativos monumentos, nos mastros e janelas das mais variadas embarcações… À noite, a cúpula celeste impele-nos a meditar na sua grandeza e, ao mesmo tempo, na pequenez de quem deve meditar!
A ansiedade implantou-se em milhões de corações e chega até a perturbar aqueles que a suportam.
Chegou a altura especial do ano de olhar para os pobres e para os sem abrigo; levar uma palavra de conforto e afeto a quem durante todo o ano foi desprezado e ostracizado; desejar fervorosos votos de paz e de boas festas aos amigos que, também durante todo o ano, se manifestaram afastados e esquecidos; abraçar a família que, nesta ocasião, se junta em lauta ceia, à volta da mesma mesa; oferecer e receber as melhores prendas, prestar a mais delicada atenção para com as crianças; e, finalmente, de todos se considerarem irmãos…
E porquê? Porque está a chegar o Natal.
Está a chegar o Natal destes novos dias; não o Natal dos nossos velhos dias. Do alto dos oitenta e tal anos, já se viveu muito Natal. Mas Natais cada vez mais diferentes: no nosso Natal havia o Presépio com as suas figurinhas que nos encantavam cada vez que nos era proporcionado observá-las, sempre com o maior respeito – era o estábulo com o berço do Menino na manjedoura, era a Mãe Virgem Maria e o Pai S. José; eram os animais que aqueciam o Menino com o seu bafo, naquela noite fria de inverno; eram os pastores, a estrela guia e os Reis Magos, cada um com a sua oferta (tudo envolto numa calada magia), os caminhos, os rios e as pontes, e um castelo lá no alto, assinalado com uma viva luzinha. Havia o Menino Jesus e as humildes prendas que nos deixava nos sapatinhos, junto à lareira; e só na manhã do dia de Natal corríamos para as procurar; havia a Missa do Galo, na qual todos cantávamos bonitos cânticos de Natal e no fim, depois de beijarmos o Menino, também nós Lhe deixávamos as nossas ofertas…
Depois chegou-nos o Pai Natal e as suas renas que, do Polo Norte, trazem as prendas; vulgarizou-se a árvore de Natal coberta de luzes e de prendas, que nasce no meio dos mais variados embrulhos coloridos, com um lacinho a enfeitar, contendo: carros, comboios, armas, pistolas, jogos eletrónicos, o mais variado vestuário…que, em muitos lares, se vão abrindo e admirando logo após a meia-noite.
Entretanto, chega-nos aos ouvidos e aos olhos aquela insistente e repetitiva publicidade envolta em cânticos natalícios que nos convida à escolha dos mais atrativos e variados produtos, publicidade que chega a deslumbrar-nos com as suas luzes, como que impulsivamente a tentar levar-nos a gastar muito das nossas economias, quantas vezes ciosamente guardadas para um qualquer imprevisto que possa acontecer-nos no percurso desta vida a que todos estamos sujeitos.
Entretanto, chega-nos aos ouvidos e aos olhos a movimentação das guerras, que nos afligem e desmoralizam com as suas atrocidades e mortes: visões que nascem todos os dias da mais desmedida crueza e vingança, cortando pela raiz os sonhos e a beleza da vida a tantos infelizes que não podem subtrair-se às redes que os aprisionam.
No entanto, está a chegar o Natal – o Natal que é alegria, bondade e, sobretudo, esperança.
E, então para todos um Bom Natal!

Edição
4017

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