AS MINAS (Ainda e outra vez)
Na última edição deste jornal, era dada a devida nota do desagrado da Câmara de Torre de Moncorvo com as vicissitudes da tristemente célebre novela da esperada, prometida, garantida e pouco concretizada, extração do minério de ferro no Cabeço da Mua, na freguesia do Felgar daquele concelho. De entre as várias queixas do edil moncorvense sobressaem duas: a exploração nunca atingiu o volume esperado e várias vezes dado como certo (era apenas uma questão de tempo) e, pasme-se, (ou não) das condições deploráveis em que a passagem dos respetivos camiões deixou as ruas e avenidas da vila bem como as estradas que a servem e às aldeias mais próximas.
Um prejuízo superior a um milhão de euros!!
Pois bem, o Presidente moncorvense seguramente terá razões de queixa da Aethel Mining, porque esteve muito longe de se aproximar dos compromissos assumidos, mas também do Governo que, segundo o próprio, tem uma ideia errada da forma como a exploração mineira deve ser feita e ainda da Direção Geral de Energia e Geologia que, supostamente, deveria compensar a edilidade por esta atividade e que apenas transferiu 2.600 euros em 2023 e nada em 2024. Podendo igualmente lamentar o estado lastimável em que estão as vias comunicação (tanto assim que o fez) não pode, em abono da verdade, alegar desconhecimento ou surpresa. Era óbvio que as estradas iriam sofrer um desgaste terrível com o transporte do minério. E se o resultado da operação é o que está à vista, quando a mineradora não extraiu nem um décimo do volume a que se propôs, imagine o caro leitor qual seria o resultado se porventura a atividade chegasse aos números profusamente divulgados, anunciados e apresentados como troféu, pela Aethel… mas também pela Câmara.
Era perfeitamente expectável! Bastava fazer algumas contas. Não passa pela cabeça de ninguém que quem se propõe liderar o destino de um dos mais relevantes municípios do distrito não seja capaz de, antes de embarcar, e com ele levar todo o concelho, fazer não mais que duas ou três contas de multiplicar e outras tantas de somar.
Mas, mesmo que não se quisesse dar a esse trabalho, não entendesse a relevância do assunto ou, inexplicavelmente, tivesse receio de as fazer… bastaria estar atento à imprensa regional e dar algum crédito a quem, de forma absolutamente desinteressada chamou à atenção para o desastre iminente.
Sob o título “Inaceitável discriminação” fiz publicar neste jornal duas crónicas nas edições números 3721 e 3723 em 14 e 28 de março de 2019 onde demonstrava que se fossem cumpridas as metas anunciadas, por Moncorvo passariam, vindos do Felgar, DUZENTOS E CINQUENTA camiões, por dia! Um camião a cada 6 minutos se o tráfego se fizesse, ininterruptamente, de noite e dia ou, no caso de se restringirem apenas a dez horas diurnas, um carro pesado, roncando, a vomitar fumo e a arrebentar com os pavimentos, a cada 2 minutos!
Estivemos muito longe disso e o resultado é o que está à vista!
Que ao menos sirva de exemplo, para decisões futuras.
Correndo o risco de, mais uma vez, estar a pregar no deserto, não posso deixar de voltar a alertar: A exploração do ferro de Moncorvo é um assunto demasiado sério e de consequências extremamente graves para todos, se não for devidamente ponderado. Cometerá um erro crasso (mais um) quem se propuser “resolver” o assunto com base no seu entendimento empírico sem olhar com atenção e racionalidade para esta problemática ouvindo todos, sobretudo aqueles que, de forma desinteressada, alertam para os riscos potenciais e previsíveis.