Assembleia da República: se pelos frutos se conhecem as àrvores
Porque nada pode justificar uma tal conduta, é tão lamentável como incompreensível que os deputados, nos momentos mais acalorados dos debates parlamentares, percam as estribeiras e se excedam na brejeirice das palavras e das expressões que utilizam para classificar os seus pares, muitas das quais são mais reles e grosseiras que o calão que se ouve nas velhas tascas que vão resistindo nas vielas dos bairros de má fama.
Como nas farmácias, desde ofensas às famílias, às qualidades, aos tiques e às origens dos próprios deputados, encontra-se um pouco de tudo no vocabulário rasca que utilizam para, a coberto da liberdade de expressão, se mimosearem uns aos outros, num procedimento que, infelizmente, é comum a deputados de todas as épocas, todas as bancadas e todas as ideologias políticas que, desde o início da Assembleia da República até aos nossos dias, legislatura após legislatura, se vão sentado nas bancadas do hemiciclo do Palácio de S. Bento.
Desde Sousa Tavares a Raul Rego, Jerónimo de Sousa, Ângelo Correia, José Magalhães, Luís F. Madeira, Veiga de Oliveira, César Oliveira, Brilhante Dias, André Ventura e a centenas de outros parlamentares, impossíveis de elencar num trabalho como este, é um nunca mais acabar de desafios, provocações e ofensas soezes à dignidade qualquer cidadão, de tentativas condenáveis de passar a vias de facto, como a protagonizada por dois deles que se “ergueram dos seus lugares ameaçando-se mutuamente”, tendo então Raul Rego disparado um “vá para a p… que o pariu”. Bonito, não foi?
Tiradas como estas “o senhor é um animal “, “o senhor é um escarro moral”, “está bêbedo”, “não tolero que um badameco qualquer me falte ao respeito”, “és um palhaço”, “estás a fazer figura de palhaço”, “vai chamar palhaço ao teu pai”, “vai chamar palhaço à tua mãe”, “vai chamar palhaço a outro” , “se pusesses umas orelhas grandes parecias um palhaço”, “nessa cabeça só tens farelos”, “não tens vergonha na cara” são mais que muitas.
Mas as coisas ainda não ficam por aqui pelo que, classificarem qualquer um deputado como “ladrão, otário, caloteiro, sujo nojento e miserável “, sinceramente, é uma tristeza e uma vergonha opara quem a tivesse.
Mas, curiosamente, mesmo estando ausente, a figura da tia é, de longe, a mais visada, com repetidas expressões como “ quem dá urros é a tua tia”, “mentirosa é a tua tia” ou “mansa é a tua tia e….(!?)similares”.
Para fechar com chave de ouro, guardei para o fim três tiradas, cada qual a mais brilhante, dirigidas, respetivamente, por Jerónimo de Sousa a José Luís Nunes, “Seu palerma! Nunca chegarás a brigadeiro, nem passarás de um sargento da cagalhota”, Ângelo Correia a Aires Rodrigues, “O senhor deputado é um atrasado mental” e de Filipe Melo a Isabel Moreira: “Já pintaste as unhas?”
Post scriptum:
Por razões óbvias, optei por deixar no caixote do lixo da história muitas outras tiradas, que ultrapassavam todas as medidas da mais reles ordinarice.