A opinião de ...

Vira o disco toca o mesmo

Em 2017, o país atravessou um período de seca severa, tal como já acontecera em 2010 e, antes, em 2005.
Durante meses, a chuva teimou em não cair, deixando os campos e as florestas sequinhos, sequinhos, à espera de uma chama para explodir.
Em 2025, o tempo até começou por ser clemente, com a chuva a cair em abundância durante o inverno e a primavera, permitino reforçar caudais, recuperar fontes e nascentes e colocar as albufeiras e barragens com valores acumulados perto dos seus máximos.
Mas a chuva que se prolongou até junho foi seguida de uma longa onda de calor, que fez crescer em abundância a erva e o mato rasteiro precisamente no período após o qual está limitado o uso de maquinaria para o corte da erva.
O resultado foi que muitos terrenos que já tinham sido limpos viram-se novamente invadidos pelo mato e pela erva, numa altura de calor em que é impeditivo andar com roçadouras ou destroçadores a fazer precisamente as limpezas, devido ao risco de incêndio.
Juntou-se, por isso, uma série de ingredientes que voltaram a culminar numa tempestade perfeita. O fenómeno não foi exclusivo de Portugal.
Em Espanha, arderam quase 400 mil hectares, muitos deles aqui bem perto da fronteira e à vista das nossas gentes, no parque natural do lago da Sanábria ou em várias regiões da Galiza e Leão.
Os vizinhos espanhóis foram forçados a recorrer ao exército e a brigadas de sapadores da Alemanha, França ou Países Baixos para, pelo menos, tentar salvaguardar as populações, com dezenas de aldeias evacuadas.
Em França registou-se o maior incêndio de que há memória enquanto que na Grécia ou na Turquia também foram vários e intensos os incêndios deste verão.
Se transversal pela Europa, o fenómeno foi particularmente violento na Península Ibérica, que estará cada vez mais sujeita a este tipo de acontecimentos. Disso não tenhamos dúvidas.
As temperaturas são cada vez mais extremas, com as ondas de calor cada vez mais prolongadas e intensas.
Isso vai afetar a agricultura, pois as nossas regiões não estão preparadas para o armazenamento de água que permita regar as nossas culturas (castanheiros, cerdeiros, nogueiras, amendoais, olivais) nos picos de calor.
A paisagem está cada vez mais abandonada, pois as aldeias têm cada vez menos gente que trate dos campos, mesmo em redor das povoações.
Como resultado, temos as imagens que este verão nos inundaram vezes sem conta as televisões, com as chamas a aproximarem-se das casas, não apenas daquelas isoladas no meio da floresta de eucaliptos mas, também, das aldeias, sejam elas no centro ou no norte do país.
É preciso enfrentar o touro pelos cornos e tomar já medidas para evitar que daqui a cinco ou dez anos estejamos a lamentar novamente dezenas de mortes e aldeias devastadas pelas chamas.
Investir apenas no combate só vai sugar recursos. Investir no ordenamento do território e na prevenção sairia muito mais barato ao Estado e à população, em termos de vidas humanas.
Quem ganha com isso? Em Espanha, foram condenadas cinco empresas de meios aéreos por cartelizar os preços. Mas foram condenadas a meia dúzia de meses de impedimento de participar em concursos... A sério??

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