A opinião de ...

Férias em tempo de pandemia

Verão rima com descontração. Férias significa sair de casa, alterar rotinas, ir para a praia ou para o campo, cá dentro ou além fronteiras, não ter horários nem obrigações, conviver, passear, ler, fazer o que nos apetecer. Era mais ou menos assim, com variações de grau, quantidade e qualidade. Era, mas já não é. O coronavírus chegou e a nossa vida mudou. Há férias, claro, é um direito constitucional, mas com novas regras e algumas restrições. Depois da clausura forçada, ansiávamos por liberdade. Desejávamos voltar à normalidade e usufruir de tudo aquilo de que fomos privados durante meses. Apanhar sol, respirar ar puro, passear, ler num jardim público, tomar café numa esplanada, jantar fora, receber e visitar amigos, abraçar, dançar.

Por antonímia com confinamento, queríamos desconfinar, o que quer que isso fosse. Desconfinámos. Uns mais, outros menos. Houve alguns excessos e houve consequências. Era impossível suster com uma rolha o dique da juventude. As autoridades de Saúde definiram minuciosamente as normas de segurança e higiene para regressarmos à “nova” normalidade. Publicitaram o que se pode e o que não se deve fazer na rua, na praia, nos espaços públicos, cafés, restaurantes, espaços de comércio e lazer. Determinaram uso de máscara obrigatório em espaços fechados, afastamento físico, higienização de espaços e objetos, lavagem e desinfeção frequente das mãos…

Agosto é mês de férias. Em tempo de pandemia, também as férias diferem do que antes eram. Não se aconselham saídas para o estrangeiro. Férias cá dentro é mais seguro. E há muito Portugal desconhecido à nossa espera. Um riquíssimo património cultural e natural, museus de arte antiga e contemporânea, igrejas belíssimas, parques naturais e paisagens deslumbrantes, excelentes hotéis para todos os gostos e bolsas, oferta de alojamento local, turismo rural e de habitação, bons restaurantes, feiras de artesanato e de produtos regionais. Falo da minha experiência, do que vi em poucos dias no litoral e no interior. Passear na Ria Formosa (Algarve) e pela paisagem natural do Douro, que Torga considera “um excesso da natureza” pela sua beleza e grandiosidade, é sempre um deslumbramento. No Algarve, as caminhadas pelos trilhos de São Lourenço e da Quinta do Lago, as temperaturas ideais do ar e da água e uns pores do sol maravilhosos ajudaram a esquecer a Covid 19. Mas respeitando sempre as normas de segurança e higiene.

Na região do Douro, por razões de proximidade com o meu refúgio, gosto de revisitar o Museu do Côa, o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais em Bragança, os castelos de Numão e Penedono, a igreja de Vila Nova de Foz Côa, os miradouros de Nossa Senhora do Viso (Custóias), de São Salvador do Mundo e de São Leonardo de Galafura e tantos outros sítios e lugares que o espaço desta crónica não permite enunciar. Repeti, com renovado prazer, jantar no restaurante Cais da Estação da Ferradosa com esplanada sobre o rio Douro e deixei-me seduzir por um delicioso almoço na varanda do Café-restaurante Romanzeira (Açoreira, Torre de Moncorvo). Por este pequeno exemplo, confirmo que é bom fazer turismo cá dentro. E dou razão a Garrett: nenhuma viagem se compara às viagens na nossa terra.

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