A opinião de ...

NÃO MATEM (ainda mais) O MEU QUERIDO PAÍS

“Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más – mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito, não temos, dinheiro também não – pelo menos o Estado não tem – e homem não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela política. De sorte que esta crise me parece a pior – e sem cura.”
Eça de Queirós, Correspondência (1891)

Estas sábias palavras foram escritas, já há muitos anos (1891) pelo grande escritor Eça de Queiroz. Parecem ser escritas hoje! É que o grande Eça conhecia bem o seu país…
Embora nascido em Arcos de Valdevez, vim viver para Trás-os-Montes já há muitos anos, mais precisamente desde o ano lectivo de 1981-82. Ninguém escolhe a terra onde nasceu, mas pode escolher onde quer viver. Por isso considero-me um Alto-Minhoto e um transmontano do coração. Um amigo meu, o meu particular colega e amigo, Dr. Francisco José Lopes, de Alfândega da Fé, disse-me, para meu orgulho, que eu sou “o minhoto mais transmontano que conhece”. Sim considero-me um transmontano, na medida em que vivo aqui há mais de quarenta anos e aqui tenho a minha querida família.
Já por várias vezes escrevi, aqui no jornal “Mensageiro de Bragança”, que o nosso país, e sobretudo o interior está a ser sistematicamente eliminado. A nossa juventude vai para o litoral, sobretudo para as grandes cidades (onde há emprego) e não volta. Outros emigram, ou são convidados a emigrar…Por isso nas nossas terras do interior, a população residente é cada vez mais idosa, sobretudo nas aldeias. As terras vão sendo abandonadas, pois a agricultura não “rende” nada, ou quase nada. Mas o principal motivo é fruto da má política que os nossos sucessivos governos têm tido. Ainda agora, veja-se o caso da TAP que é terrível … Para além disso, há outras medidas anunciadas (ou já em execução), que vão agravar ainda mais este problema, como por exemplo: os serviços de saúde mais distantes, etc.. Mas não iremos falar mais destas “desgraças”, pois, infelizmente, todos os dias lidamos ou ouvimos falar delas…Prefiro falar de soluções. Pois muito bem. Quando é que Trás-os-Montes começa a ser “discriminado” positivamente, pois até aqui, têm sido discriminados negativamente? É tempo de começar a dar apoios e incentivos aos habitantes, sobretudo aos mais novos, para investirem na sua terra. Temos muitas potencialidades, mas as pessoas têm de ser esclarecidas, orientadas e, obviamente, ajudadas para saber o que investir e onde investir. Os burocratas que vivem sobretudo em Lisboa e. não têm o conhecimento real das nossas terras. Podem ter muitos conhecimentos académicos mas falta-lhes conhecer a realidade de quem aqui vive o dia-a-dia e de quem aqui labuta. Uma coisa é a teoria, outra é a prática. Os “politiqueiros” também não nos interessam pois eles só reparam no que lhes interessa. Temos de ser nós a “deitar mãos à obra”.
Quem visita, por exemplo Bragança, depara-se que, nos meses quentes vê-se muita gente nas ruas mas, durante as restantes estações do ano, há muito poucas pessoas, o que prejudica bastante o nosso comércio local. Para além disso, pasme-se, conheço muitas pessoas de Bragança que vão fazer compras…ao Porto! Temos de “dar a volta” a isto. Como? Apostando naquilo que temos de bom e naquilo que sabemos fazer. Não vale a pena estarmo-nos sempre a lamentar, pois ninguém nos vem resolver os nossos problemas. Temos que ser nós a ter ideias, produzir em qualidade, inovar e envolver a juventude nesta mentalidade positiva. A Natureza aqui foi pródiga. Temos de apostar no turismo (nas suas várias vertentes). Temos uma ótima gastronomia? Temos de a divulgar ainda mais. Temos de criar rotas turísticas, como por exemplo: dos Caminhos de Santiago; do românico; dos Castelos, enfim um sem número de temas que motivem a vinda de turistas às nossas terras.
Caros conterrâneos, temos que “arregaçar as mangas” e “dar a volta” à crise. O muro das Lamentações fica em Jerusalém. Aqui temos de ser criativos e produtivos. Vamos a isso…

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