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Mediterrâneo: A Problemática dos Refugiados!

À conta da pandemia Covid-19 e da guerra russo-ucraniana, parece que os demais problemas desapareceram! Porém, a vaga de refugiados que do Norte de África afluem à Europa comunitária desde 2015 é realidade presente, tal como o morticínio que tornou o Mediterrâneo num caixão de águas profundas. Mais de 70 mil pedidos de asilo só em julho deste ano, com igual número de pedidos em três meses consecutivos. Olhemos os factos: 1) O Sul do Mediterrâneo releva de instabilidade política e social, caracteriza-se por ter baixos índices de produtividade e desenvolvimento e um elevado índice populacional, materializado numa população jovem, instável e frustrada, em que a guerra é parte do quotidiano e o islamismo a força dinamizadora; 2) A Norte estão das mais pujantes economias do mundo. Habitada por 500 milhões de pessoas, mas com o rejuvenescimento demográfico estagnado, a identidade greco-romana e os valores judaico-cristãos cedem lugar ao individualismo, ao relativismo e ao «eu» em detrimento do «nós» e de Deus; 3) Foram países como os Estados Unidos, o Reino Unido ou a França, através de ingerências políticas e intervenções militares, que desagregaram o sistema político-social em países como a Líbia, a Síria ou o Iraque, onde irromperam guerras civis e se instalaram organizações terroristas islâmicas; 4) Os países europeus mais fustigados pelas vagas de refugiados são os «ribeirinhos» como a Grécia, a Itália, a França ou os balcânicos. Apesar de muitos se acantonarem em países islâmicos como o Egipto, o Líbano ou Jordânia, constituindo a Turquia o fiel de uma balança que oscila entre o travão e a chantagem relativamente à UE Europeia; 5) Países comunitários do Leste europeu, os aliados Rússia e Irão e os arábicos dos petrodólares como a Arábia Saudita, Kuwait, Qatar, Emirados Árabes Unidos ou Omã recusam-se a abrir portas.
Assim, nesta questão dos refugiados podemos inferir três perspetivas:
Perspetiva Idealista (ONU, Igreja Católica, Organizações Humanitárias): Assiste-se a uma inaceitável tragédia humanitária a Sul do Mediterrâneo, com seres humanos à deriva no mar, crianças que beijam as areias arrastados pelas marés e famílias em pânico barradas por muros ou arame farpado a Norte. O refugiado é um ser humano e a urgência é que a riqueza a Norte acolha e dê inserção à pobreza do Sul. É plausível que as pessoas e as famílias adotem os padrões de vivência comportamental e social semelhantes aos dos países de acolhimento. Para a visão idealista, o problema é humanitário que urge ser resolvido com compaixão!
Perspetiva Realista (Estados-membros da UE): Trata-se de uma conjuntural vaga de gente que foge da guerra, da fome e dos horrores do terrorismo, na procura novas e melhores condições de vida. Receiam os anseios sociais, pressão económica e alienação de valores de uma migração passível de ações insidiosas intraeuropeia. Proclama-se compaixão pelos refugiados, mas cada país recetor teme tornar-se vítima da própria situação. A migração é um risco geopolítico e impõem-se medidas militares urgentes para varrer as organizações terroristas dos países de origem dos refugiados, tornar seguras as zonas de proteção e investir em pessoal e infraestruturas para fixação das populações nos locais de origem. Se o ocidente comunitário é mais inclusivo e propõe quotizações, o Leste é mais irredutível. Ao centro, a bondade germânico-austríaca causou perplexidade! Na ausência de uma política comum da União Europeia, para a perspetiva realista trata-se uma pressão migratória que deve ser gerida!
Perspetiva Catastrófica (cidadãos e organizações conservadoras): Está-se perante um perigoso movimento de massas islâmico passível de corroer os valores civilizacionais da sociedade europeia, motivando posturas securitários. Receia-se a sua desagregação, como Roma há 1500 anos, que implodiu à conta da fraqueza dos governantes, fragmentação das elites aristocráticas, da quebra de disciplina das legiões e da inserção dos bárbaros Germanos a Norte, Godos a Este e Vândalos a Sul, que minaram a coesão social. Permaneceu firma a Igreja, que reconstruiu espiritual e socialmente um continente e que legou o mosaico judaico-cristão, em risco. Para a perspetiva escatológicas, assume-se uma invasão que deve ser contida e/ou combatida!
Entre as três perceções, onde fica a existência de uma política europeia concertada?

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