A opinião de ...

A exportação dos filho

Bem sabemos do grande investimento que o nosso País tem feito nas últimas décadas na qualificação das novas gerações, até para um contexto global, especialmente europeu, com quinze anos ou mais de educação e formação, na Escola, nos Institutos Politécnicos e/ou nas Universidades.
Precisamos que Portugal tenha mais conhecimento, maior competência, melhores recursos humanos, mas para isso é preciso evitar que os seus cérebros, os nossos jovens filhos, emigrem para fora do País.
A mobilidade é boa, se for por opção própria, livre e consciente, mas ser obrigado a emigrar para ganhar a vida é muito preocupante e desapontante.
Portugal não pode continuar a desperdiçar o melhor que tem que são os seus jovens.
Não se percebe como se pode desperdiçar assim esse investimento que se evidencia de múltiplas formas e com diversas causas e razões.
Desde logo, pela taxa de desemprego verificada, que se situa, nos jovens, nos 24%, sendo, neste momento, a 5.ª taxa mais elevada na União Europeia.
Depois, pelo desperdício de habilitações, pois são muitos os que, após uma licenciatura, o máximo que tem podido aspirar, sem qualquer desprimor para este trabalho digno e necessário, é a vender eletrodomésticos numa Worten, a deixar a roupa arrumadinha numa Springfield, a registar compras numa caixa do Pingo-Doce ou a atender num call-center de uma qualquer multinacional... e com sorte, enquadrados num “estágio” não remunerado e ainda com mais sorte com um qualquer contrato à experiência ou outro de três ou seis meses.
Acrescente-se ainda, como é possível que um jovem com uma formação superior e um horizonte profissional realizador, queira ficar pelo seu país quando, se conseguir trabalhar na sua área de qualificação, o que provavelmente vai encontrar é um salário ridiculamente baixo? E que mesmo a “lavar pratos” no estrangeiro, ganha o dobro ou o triplo que ganharia por cá?
Portugal é mesmo o país da Europa ocidental com os salários mais baixos e onde estes se encontram sujeitos a uma carga fiscal que é a 7.ª carga fiscal mais elevada sobre o trabalho.
Como é possível que permaneça, quando o salário pago aos jovens em geral nem chega ao salário médio de outros países europeus e estes tenham de pagar uma das rendas mais caras, ao nível dos centros das grandes cidades europeias?
Aposto que os jovens quadros médios e superiores de outros países, ao saberem disto tudo, mesmo que não gostem de sol, praia e boa comida, são capazes de vir a correr para cá!
É fundamental dar aos jovens qualificados, as oportunidades para ficarem cá porque a forma de os fixar em Portugal e de atrair até outro talento que já saiu e dos jovens estrangeiros também, é precisamente ter uma economia diferente, com salários mais convidativos, com outro tipo de empregos e de competências que são necessárias.
Precisamos de desenvolver uma economia que aproveite as novas gerações devidamente. Por exemplo, que se acabe com os estágios não-remunerados, que sejam apoiadas as pequenas e médias empresas que necessitem desses recursos humanos qualificados e incentivadas outras à sua contratação definitiva.
Precisa-se também erradicar a corrupção que consome os recursos do país e de combater a especulação e a ganância de alguns grupos que gravitam à volta dos diferentes poderes.
É urgente, sobretudo, garantir aos jovens, trabalho digno, criativo, participativo e solidário para que sejam protagonistas ativos da nossa sociedade.
Como disse um dia o Papa Francisco “não se pode falar de futuro, sem a sociedade assumir a responsabilidade que tem com os jovens. Não nos privemos da força das suas mãos, das suas inteligências, das suas capacidades de profetizar os sonhos dos seus idosos. Estimulemo-los para que sejam capazes de sonhar e lutar pelos seus sonhos; capazes de crescer e tornar-se pais e mães do nosso povo”.

Edição
3856

Assinaturas MDB