A opinião de ...

Os novos desafios de António Costa

O Partido Socialista (PS) foi, pela primeira vez em Portugal, e em primárias, a votos, com 93.000 militantes e 150.000 simpatizantes, para eleger o seu candidato a Primeiro-Ministro. Demonstraram maior interesse os simpatizantes ao comparecerem ao acto eleitoral em muito maior percentagem.
A disputa era, como foi consabido, durante quatro meses, entre dois antónios, o Costa e o Seguro. Podia ter sido uma excelente ação de propaganda do Partido mas não foi, pelas circunstâncias em que António Costa se ofereceu para Secretário Geral, as quais nunca foram aceites pacificamente por Seguro. Disso se ressentiram a campanha e os debates, com Seguro a acusar Costa de traição e este a não conseguir impor, por sua vez, o debate de ideias.
Ganhou, como era esperado e as sondagens não enganaram, o António, de sobrenome Costa, ex-ministro de Guterres e de José Sócrates, e Presidente da Câmara de Lisboa, com 68,77% dos votos. Na campanha, trazia consigo a auréola do poder perdido e amado pelos socialistas. Trazia também o apoio do «pai», nunca «matado», e sempre inspirador, Mário Soares. E, à sucapa, estava infiltrado por José Sócrates, o «herói furtivo» que tenta regressar à liderança e à ribalta, demasiado cedo.
Demasiado «verde» para o PS, António José Seguro caiu com dignidade e o PS só lhe pode estar grato pelos esforços que desenvolveu num período muito difícil do Partido e de Portugal.
Costa tem agora pela frente grandes desafios. Espera-se que transforme o PS num partido de trabalho, de investigação, de construção de ideias e, depois, de poder.
A par, os socialistas quererão que ele conduza o PS à vitória nas próximas legislativas. Espera-se que, se ganhar as eleições legislativas próximas, não chegue lá de novo tão impreparado como os membros dos governos anteriores. Não é fácil a vitória, perante a incógnita do efeito Marinho Pinto e perante a incógnita do futuro de Passos Coelho e da coligação PSD/CDS.
Passos Coelho parece ter o destino de Sócrates. «Suicidaram-se» ambos ou «assassinaram-nos» deixando-os a ambos sem provas para os condenarem mas também sem argumentos de defesa. É difícil ter um futuro risonho assim. Mas, claro, é sempre mais fácil ao PSD dar a volta por cima do que ao PS porque o PSD tem mais apoio social, eclesiástico e financeiro.
Provavelmente, Costa vai agora ver como o papel de ator é bem mais difícil do que o de comentador. Terá de confrontar a sua quadratura do círculo com a realidade da ação e do labirinto da intriga. E espera-se que não tenha rabos de palha na Câmara de Lisboa. O PSD, como o PS, sabe muito bem vasculhar as prateleiras da burocracia mal resolvida.
O país necessita de um pacto de regime para resolver os seus problemas. Espera-se que Costa, se ganhar as eleições, saiba conduzir a esse acordo para haver alguma paz durante pelo menos oito anos.

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