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O apelo do Papa

Foi no passado dia 29 (quarta-feira) que o Papa Francisco divulgou o tema do próximo Dia Internacional das Comunicações, em 2022.
Habitualmente, a Mensagem do Papa é conhecida a 24 de janeiro, dia de S. Francisco de Sales (que na diocese de Bragança-Miranda é assinalado com um pequeno almoço entre o bispo D. José Cordeiro e os jornalistas em atividade na região) mas divulgada apenas em maio, altura em que se assinala o Dia Internacional das Comunicações (no domingo de Pentecostes).
Em 2022, o Papa Francisco propõe o imperativo “Escutai”, desafiando o mundo da comunicação a “reaprender a ouvir”.
“A pandemia afetou e feriu todos e todos precisam ser ouvidos e consolados. Ouvir é fundamental para uma boa informação. A busca da verdade começa com a escuta”, refere um comunicado divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, citado pela agência Ecclesia.
O Vaticano acrescenta que, depois da mensagem de 2021, “centrada no ir e ver, o Papa pede agora que se “reaprenda a ouvir”.
“Qualquer diálogo, qualquer relação começa com a escuta. Por isso, para crescer, mesmo profissionalmente, como comunicadores, é preciso reaprender a ouvir muito”, assinala a nota, que liga o tema 56.º Dia Mundial das Comunicações Sociais ao processo sinodal que se inicia em outubro, levando à Assembleia do Sínodo dos Bispos, em 2023.
“Neste tempo em que toda a Igreja é convidada a ouvir para aprender a ser uma Igreja sinodal, todos somos convidados a redescobrir a escuta como essencial para uma boa comunicação”, conclui o Vaticano.
O papel da imprensa é precisamente o de dar voz aos que não têm voz, sobretudo a regional, que tem mais proximidade com o cidadão e com o seu dia a dia, e ainda mais a de inspiração cristã.
Mas o apelo do Papa Francisco, que em 2023 deve regressar a Portugal para a Jornada Mundial da Juventude, que se realiza de 01 a 06 de agosto, deve ser lido de uma forma mais abrangente do que fosse dirigido apenas à imprensa tradicional.
O mundo das redes sociais eletrónicas é cada vez mais histriónico, em que muito se diz e pouco se houve.
Nas televisões, gritar mais alto significa comunicar melhor no entender de muitos, levando a que, no meio de tanto berro, ninguém oiça a mensagem.
Mas o desafio do Papa Francisco não passa apenas por ouvir. Vai mais além disso. O Papa pede para se escutar, que implica fazer mais do que apenas ouvir.
Muitas vezes, na voracidade do dia a dia, com tanto esforço que fazemos para ouvir, esquecemo-nos de escutar o que ouvimos (e vemos, pois os sinais também 'falam').
Sem escutar o outro, os dois lados barricam-se nas suas posições pré-assumidas e os conflitos perpetuam-se.
Neste tempo que é de pós eleições, é tempo de escuta. De os eleitos se escutarem e se motivarem a uma governação eficiente e em prol do povo, o tal que não tem voz, mas, também, de se escutar a mensagem silenciosa deixada nas urnas. Seja com a responsabilidade das grandes maiorias seja com a necessidade de negociação entre minorias.
E, acima de tudo, escutar o povo e as suas necessidades e não a necessidade individual de cada um.
Escutemo-nos, pois.

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