Nordeste Transmontano

Há dois meses que não havia tantos casos num só dia

Publicado por António G. Rodrigues/Fernando Pires em Qui, 2020-06-18 10:47

O desconfinamento e os feriados a meio da semana passada trouxeram 17 casos de novas infeções por covid-19 ao Nordeste Transmontano, registados nos concelhos de Macedo de Cavaleiros (dois casos), Torre de Moncorvo (dois), Bragança (11) e Mirandela (dois), sendo que cinco foram importados da região de Lisboa e Vale do Tejo e viriam a dar origem aos restantes casos.

Em Macedo de Cavaleiros, um casal, na casa dos 50 anos, foi infetado depois de ter jantado com um outro casal, vindo de Lisboa, e que também estava infetado.

Em Mirandela, foram duas mulheres, vindas de Lisboa de visita à aldeia de S. Salvador, que acabaram por testar positivo. No entanto, o marido de uma delas, que as acompanhou na mesma viagem e conduziu o automóvel em que se deslocaram, deu negativo ao teste da covid-19.

Já em Torre de Moncorvo, registaram-se duas situações sem ligação entre si. Um investigador, de 29 anos, que tinha estado na Guiné e que passou por Lisboa antes de regressar ao Nordeste Transmontano, sentiu-se mal, fez o teste e acusou positivo. Acabou por ficar internado em Mirandela.

Para Mirandela foi, também, um polícia de 52 anos, que presta serviço em Lisboa e que veio à região passar uns dias.

Este é o caso que inspira maiores cuidados pois acabou por ser transferido já na terça-feira para os cuidados intensivos, em Bragança, depois de o seu estado de saúde se ter agravado.

Já esta semana, começaram a surgir os primeiros casos entre a comunidade estrangeira que estuda em Bragança e que levou mesmo a um comunicado da Associação de Estudantes Africanos em Bragança.

Uma estudante do Instituto Politécnico de Bragança, que trabalhou num hotel de Lisboa, regressou à região e contactou com dois outros colegas, do sexo masculino, que acabaram por testar positivo. Todos estão na casa dos 20 anos.

Já esta terça-feira testaram positivo mais oito elementos da comunidade africana, sendo que um deles diz respeito a uma jovem que veio de Aveiro visitar os amigos.

Desde o dia 17 de abril que não se registavam tantos casos num único dia no distrito de Bragança. Na altura, foram dez os casos novos.

As autoridades detetaram estes casos porque um dos primeiros jovens infetados teve sintomas compatíveis com a covid-19 e dirigiu-se às urgências do hospital de Bragança, onde fez o teste, que deu positivo. A partir daí foram feitos testes a vários dos contactos.

Uma situação que, à porta do verão e do regresso de muita gente às terras de origem, está a deixar preocupadas as autoridades de saúde. " Há quase 15 dias que não tínhamos nenhum caso e nos últimos dias tivemos sete ou oito que vieram de Lisboa e Vale do Tejo.

Essas pessoas não têm culpa, porque estão assintomáticas , mas estão com pais e avós e é essa a nossa preocupação", frisou Carlos Vaz, presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste, aos jornalistas, na terça-feira.

"A Saúde Pública fez logo o rastreio dos contactos e já começaram a aparecer alguns nessas aldeias. Ninguém tem culpa. Mas com o verão e a reabertura das fronteiras, alguns emigrantes virão assintomáticos. Mas podem criar novas bolsas de pandemia. Por isso, mantemos todas as estruturas. Hoje estamos todos muito mais preparados", sublinhou.

A ULS tem, neste momento, 40 ventiladores, depois de nos últimos dias ter recebido mais uma remessa do Ministério da Saúde.

Mas o aparecimento de casos novos na aldeia de Outeiro, na semana passada, com origem, mais uma vez, na região de Lisboa, deixou também o semblante carregado ao presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias.

"É uma situação que me preocupa. Localmente, fez-se um trabalho notável no que tem a ver com a atitude tomada perante a pandemia mas agora, com o desconfinamento temo regredirmos neste processo. Devemos ter cuidados ao contactar pessoas vindas de outros pontos do país. Temos de ter todo o cuidado e preocupa-me. Não se pode andar a brincar com coisas sérias", destacou o autarca.

Ao longo da última semana, o distrito somou mais 17 casos positivos, chegando aos 285. Bragança continua a ser o mais afetado, mas agora com 22 casos ainda ativos, depois de nos últimos dias terem recuperado mais oito pacientes.

Também já recuperaram os dois casos que ainda se mantinham ativos em Vinhais, que se tornou, assim, no sexto concelho dos 12 do distrito a ver-se livre da doença.

Macedo tem cinco casos, Mirandela, Alfândega, Moncorvo e Miranda do Douro têm um cada um, sendo que as autoridades contabilizam ainda sete casos externos à região. Dos 285 infetados desde o início da pandemia na região, 222 já estão recuperados, havendo, ainda, a lamentar a morte de 24 pessoas.

 

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