A opinião de ...

Todos guardamos as recordações dos tempos em que frequentámos a Escola Primária.
Sou do tempo em que quase todas as aldeias tinham a sua “Escola”. Não me lembro, na altura, de nenhuma aldeia, por mais pequena que fosse, que não tivesse a funcionar o Ensino Primário, disponível para todas as crianças nascidas, ou residentes. É certo que me recordo de ser construído o edifício e todo o espaço de recreio, bem implantado, diga-se em abono da verdade, onde realizei o meu percurso escolar até à 4.ª classe. Como não esqueço que fui fazer exame da 2.ª classe à sede de freguesia, Macedo do Mato, e da 4.ª classe a Izeda.
Bom, tudo isto a propósito da minha participação num almoço/convívio, promovido pela Associação de Caçadores e apoiada pela Junta de Freguesia de Macedo do Mato, que teve lugar no passado Domingo, no edifício da antiga escola de Frieira, aberto a todos os fregueses. Devo confessar que, quando tive conhecimento da realização deste convívio gastronómico, a ideia me entusiasmou. Aproveitaria a ocasião para conviver com gentes que não via há muito tempo e retornaria à minha “escola”.
Mesmo já com uma idade avançada (quase 93 anos) e, com a inerente dificuldade de mobilidade, fiz-me acompanhar pelo “senhor meu pai”. Na verdade, também, ele gostando da iniciativa. Não se fez rogado. O mesmo se passou com o meu irmão, Moisés Pires. Lá fomos os três. Foi, de facto, um dia diferente, repleto de recordações de tempos idos. A serventia do edifício é outra, uma vez que ali funciona a sede social, da Associação Recreativa, Desportiva e Cultural de Macedo do Mato.
Se o espaço envolvente continua igual, com os muros de granito, em bom estado de conservação, e as roseiras ainda com vida, pela força das circunstâncias da utilização que agora lhe é dada, o interior do edifício já não parece o mesmo. Além das paredes, a precisarem de pintura, e as janelas de reparação, em termos de identidade escolar, apenas ali permanece o estrado, agora uma mesa, o quadro preto de lousa…e as cortinas. Tudo o resto já ali não mora.
Lembrei-me, então, das carteiras com os tinteiros, do material de apoio pedagógico, da secretária da professora, da biblioteca que servia toda a população, dos mapas na parede, onde permanecem os sinais da sua existência, do fogão destinado ao aquecimento, mas que nunca funcionava, enfim, até dos retratos de António Oliveira Salazar e Américo Tomás, da gravura com a imagem de Nossa Senhora da Assunção!... Foram-se os quadros, mas ficaram os pregos que os suportavam. Por sinal, bem visíveis. Foi bom ter voltado à escola, 50 anos depois. Sobretudo pelas memórias do tempo que ali, escolarmente, permaneci e pelo que, no domingo, convivi. Na verdade, mudam-se os tempos…mudam-se as vontades…alteram-se as razões de ser das coisas…das pessoas…do momento e do pensamento!... Quem diria, nos meus tempos de criança, que um dia a escola iria ter este fim e sofrer tal tormento?!... Resta a saudade dos colegas de escola… que não estiveram presentes, dos tempos em que, no recreio, mesmo com a bola feita de trapos…jogávamos futebol contentes!...
Pois que a Junta de Freguesia não deixe perder o património que é de todos, bem como a respetiva identidade, aproveitando e recuperando o material pedagógico para organizar uma espécie de museu, onde, cada um nós possa recordar e no pensamento reviver…os tempos da Escola Primária que viveu e não esqueceu!... E…tudo o resto, que sejam boas recordações!...