Política no grau zero!
Há menos de um mês a Comissão Política Concelhia de Bragança publicou um comunicado em defesa do Presidente da Distrital, Hernâni Dias lamentando e repudiando os julgamentos, com tentativa de destruição da imagem pública da anterior liderança camarária do, na altura, Secretário de Estado, garantindo que, a seu tempo, as instituições democráticas e judiciais assegurarão a devida clarificação. Apelava para que a política fosse pautada por elevação, responsabilidade e respeito, repugnando o aproveitamento político da situação.
Há pouco mais de uma semana, a mesma Comissão Política veio acusar o mesmo Hernâni Dias, de desonestidade, falta de ética e caráter político, acrescentando grande preocupação pelo assalto aos valores da democracia por quem se apelida de democrata.
Fiquei estupefacto. Eu e, julgo, muitos dos eleitores brigantinos.
O que de tão relevante aconteceu, entretanto?
O repudiado julgamento público passou da Praça da Sé, para o Palácio da Justiça e a esperada clarificação veio revelar a justeza das acusações, anteriormente aviltantes, que os adversários, desprovidos de elevação, responsabilidade e respeito, injusta, ou, pelo menos, extemporaneamente, lhe atiravam à cara?
Não!
Soube-se da constituição de duas empresas, uma direta oura indiretamente, ligadas ao antigo edil, já lá vamos, mas não houve, por parte do Ministério Público (tão lesto a levantar suspeições e a acusar por dá cá aquela palha) qualquer pronúncia ou indiciação de delito. É verdade, que a atuação do Dr. Dias foi insensata e ingénua. Tanto que casa mal com uma suposta e séria intenção de aproveitamento da Lei dos Solos. Esta vai trazer, seguramente, valorização de terrenos que de rurais passem a urbanos, mas isso não implica qualquer ilícito… a menos que contivesse alguma norma especial para contemplar propriedades do governante ou que este, sabendo do que estava para acontecer, adquirisse propriedades em áreas de potencial valorização. Nada tendo vindo a público, assumo que não aconteceu.
Não sou próximo de Hernâni Dias ao ponto de me atravessar pela sua honestidade, porém conheço-o há tempo suficiente para lhe reconhecer inteligência e sagacidade suficientes para saber que se, por acaso, se quisesse aproveitar de tal pacote legislativo, facilmente poderia esconder o seu interesse usando, como outros fazem, testas de ferro para o efeito e, candidatos não lhe faltavam, seguramente, entre muitos dos que hoje o querem apear da presidência da distrital laranja… após a sua demissão da Secretaria de Estado. Sim, o que de relevante aconteceu foi o abandono da cadeira governativa!
A tal Lei, tão zurzida por uma elite urbana e radical merece uma análise ponderada.
Tendo tido o privilégio de liderar a elaboração dos cinco primeiros PDM’s da Terra Quente Transmontana (e dado uma mãozinha ao de Moncorvo onde era vereador da oposição) conheci bem o contributo do radicalismo da RAN e da REN, para o aprofundamento da desertificação da nossa região. A incómoda construção desenfreada invasora de terras aráveis, leitos de cheia e cumeadas sendo um risco em todo o lado é um perigo nos grandes centros do litoral (e, aí, com jeito e meios é possível ultrapassar as proibições), mas a abertura à construção moderada e com regras em pequenas propriedades rurais e florestais é, garantidamente, uma mais valia para o interior, fomentadora da agricultura, do turismo, do ordenamento territorial, contribuindo para a prevenção e combate aos incêndios.