Maria Aliseychik
Quando me cruzei com a Maria nos corredores da Fundação Champalimaud, já lhe conhecia o nome por me ter sido referido, com insistência, no ano anterior ao da sua vinda. O Henrique Veiga Fernandes, um dos mais bem-sucedidos Investigadores da Champalimaud que chefia um grupo de cientistas dedicados à Imunofisiologia na área de investigação em Fisiologia e Cancro, ligou-me várias vezes, no final de de 2020. Tinha identificado uma investigadora, altamente qualificada, especialista em imunologia e estava preocupado com a demora na obtenção da autorização de residência. Queria saber o que se podia fazer para facilitar e aligeirar o processo que estava anormalmente lento. A urgência prendia-se com a oportunidade na colaboração de um projeto, já financiado, a que ela iria dar um impulso significativo e, ao mesmo tempo, ganhar à concorrência pois estava a ser disputada por um prestigiado instituto alemão.
Não foi fácil!
O SEF estava debaixo de fogo e a sua extinção era iminente dificultando todo o processamento que, no passado, apesar de complexo e moroso, tinha uma espécie de via verde, mais simples e direta, para facilitar o acolhimento de imigrantes de reconhecido mérito devido ao alto valor acrescentado que traziam para o nosso país.
A criação da AIMA veio complicar muito a operação anterior, sobretudo neste nicho, muito restrito e seletivo de recrutamento no estrangeiro, mas o tempo demasiado longo de limbo, entre o anúncio da cessação de funções da anterior estrutura e a entrada em funcionamento da nova foi ainda pior. O resultado ficou bem evidente nas centenas de milhar de processos sem resolução atempada e, pior, sem qualquer critério, com prejuízo claro e óbvio para o interesse nacional.
A Maria Aliseychik foi notícia de jornal por ter sido detida, nas instalações da AIMA, algemada e conduzida a uma esquadra por ter reclamado, talvez com demasiada insistência e veemência por se achar envolvida num processo kafkiano em que quando segue o protocolo normal é enviada para o atendimento pessoal e, uma vez aí chegada, é remetida para o procedimento protocolar. Para tornar o processo mais absurdo refira-se que as autoridades portuguesas estão a negar a renovação do visto de residência para visitar um familiar próximo que sofre de cancro a uma investigadora que veio para Portugal com a missão de procurar soluções inovadoras no tratamento de doenças cujos primeiros beneficiados serão os pacientes oncológicos portugueses.
Não há fotografias e muito menos vídeos da intrépida ação dos agentes da autoridade a algemarem uma perigosa cientista a ameaçar a segurança nacional, depois de prejudicar a ilustre pátria lusitana com as suas descobertas, numa tentativa, a seu tempo frustrada por um garboso funcionário de uma agência governamental que logo identificou o risco de dar cobertura a tão funesta agente estrangeira. Não sei qual a razão da não existência de imagens do ocorrido, mas desconfio que os equipamentos de multimédia de um determinado partido, perito em denunciar estas situações estavam todos ocupados em registar o acontecimento do século: o grande líder, munido de uma vassoura de giestas a apagar uma labareda de quase dois palmos de altura que teimosamente consumia a erva seca ao redor do toro de um eucalipto.
Para que precisamos nós de investigadores de topo quando temos heróis deste calibre?